terça-feira, 9 de agosto de 2011



09 de agosto de 2011 | N° 16787
PAULO SANT’ANA


A Copa da Miséria

O deputado federal Giovani Cherini (PDT-RS), criticado rudemente por esta coluna por ter movido ação penal contra o músico Tonho Crocco, mandou defesa a esta coluna.

Entre outros pontos, o deputado diz que não agiu na surdina, como na coluna foi escrito, mas com a presença de todas as lideranças partidárias da Assembleia.

Disse também que seu nome nem consta da música do citado cantor, quando ela nomina os deputados que se autoconcederam aumento nos subsídios.

E que houve, ontem, decisão do magistrado estadual Artur dos Santos e Almeida, na qual foi declarado que Giovani Cherini não é parte no processo em causa, pois nunca existiu representação de sua autoria contra o músico Tonho Crocco.

O que Giovani Cherini fez contra o músico não foi uma representação criminal.

No entanto, ele assinou, como presidente da Assembleia, um pedido de providências ao Ministério Público, denunciando o músico por letra de música ofensiva aos deputados, o que vem a ser a mesma coisa.

Não foi ao arcebispado que o deputado denunciou o músico, foi ao Ministério Público.

Portanto, não produz efeito o truque eufêmico do deputado.

A série de reportagens que Zero Hora publicou na semana passada sob o título de “O Rio Grande indigente”, de autoria dos repórteres Carlos Wagner e Itamar Melo, fotos de Tadeu Vilani, trouxe entre tantos casos de miséria o da aposentada Arlinda Morais dos Santos, com 62 anos, moradora de Linha Schaffer, interior de Vicente Dutra.

De cortar o coração: ela mora numa encosta de morro, a oito quilômetros da zona urbana. Para chegar lá, é preciso enfrentar subidas e descidas por uma estreita estrada de terra. Como seu casebre estava se desmanchando, mudou-se para o paiol, uma construção de madeira velha, com um única peça, praticamente sem mobília e tomada pelo entulho:

– Espicho o colchão aqui e me deito. Banheiro, eu nunca tive. Faço minhas necessidades no mato. O banho eu tomo com a roupa do corpo, usando a água da manga. Dá trabalho, com este frio.

Essa aposentada é analfabeta e passa fome. Recentemente descobriu que fizeram um empréstimo frio em seu nome e por isso não tem recebido nada da Previdência.

Ela é mais uma gaúcha que entoa a cantiga triste e desolada da pobreza extrema.

É um exemplo apenas dos milhões de brasileiros que sobrevivem na miséria, entregues ao abandono nos grotões infaustos da tragédia de fome existentes no país.

E os lindinhos realizando uma Copa do Mundo e uma Olimpíada que consumirão bilhões de reais, fora a corrupção do superfaturamento e dos descarados aditivos.

Tinham que realizar aqui no Brasil a Copa do Mundo da Miséria, do Descaso, do Descaramento, quando então poderíamos almejar o título de campeões

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