segunda-feira, 1 de agosto de 2011



01 de agosto de 2011 | N° 16779
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Futebol

Cabe celebrar aqui Camisa Brasileira, uma obra cúmplice do fotógrafo Gilberto Perin e do escritor Aldyr Schlee, a que se somaram um depoimento de João Gilberto Noll e o trabalho de um editor – e poeta – sensível, Alfredo Aquino e sua ardotempo.

É um livro sobre o Grêmio Esportivo Brasil, de Pelotas. O que poderia ser uma peça de ardor clubístico, transforma-se numa reflexão sobre o ser humano. A arte soberba de Gilberto Perin seguiu parte da campanha do Brasil no ano passado, entre vitórias e derrotas, momentos de desânimo e euforia.

Os protagonistas são os próprios jogadores, captados em diferentes vestiários e túneis. Os jogadores não são identificados. O fotógrafo capturou suas imagens e dividiu-as em secções que indicam os elementos que perpassam os vestiários: a preparação do jogo, a fé religiosa dos atletas, a dor, a solidão dos expulsos de campo.

O capítulo da fé impressiona: são pequenas imagens de santos, galho de arruda atrás da orelha, Jesus Cristo e Iemanjá, rezas coletivas. Já a preparação mostra a indigência de alguns vestiários, com suas duchas de plástico, azulejos faltantes, paredes cobertas de mofo. A glória das vitórias e o desalento das derrotas constituem uma das partes mais dramáticas – mas ambas se parecem, em seus efeitos psicológicos: choros e abraços.

Costurando as fotos e dando-lhes uma identidade única, está o texto de Aldyr Schlee, escritor de Contos de Futebol e, cabe repetir sempre, criador do uniforme da seleção canarinho. É dele esse resumo impecável: o vestiário “é um mundo fechado e interdito de onde os homens saem mudos e deslembrados; de onde, logo, já não se sabe e não se diz o que se viu ou se ouviu; de onde, depois de tudo, já não se recorda o que se fez ou o que se deixou de fazer”.

O depoimento de João Gilberto Noll comove também pela síntese, capturando o instante sem tempo das fotos: “Vemos jogadores em um campeonato de segunda divisão num intimismo viril, nos toscos vestiários, alguns ensaboados debaixo dos chuveiros, entre confidências discretas, surdos palpites talvez”.

A apresentação de Alfredo Aquino é um sumário que revela: “O que vemos neste livro está antes do apito inicial e logo após o apito final, ou seja, sem a competição, sem a luta e sem o lúdico...” E podemos completar: trabalhado com esmero e paixão, uma obra de arte superior.

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