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sábado, 6 de agosto de 2011
07 de agosto de 2011 | N° 16785
VERISSIMO
Confissão de um sócio atleta
Participei do grande evento culinário-gastronômico que o suplemento Paladar, do Estadão, organiza todos os anos, e que reúne chefs e sommeliers, produtores de comida e aficionados do bem comer para trocar ideias, ensinar, aprender e simplesmente conviver durante três deliciosos dias. Fui convidado como palestrante, junto com o Ignácio Loyola Brandão, o Humberto Werneck, o Pedro Martinelli, o Fernando Gabeira e o Guilherme Studart, entre outros.
O Loyola lembrou as comidas da sua infância, em Araraquara, o Werneck falou das famosas empadinhas de Belo Horizonte, o fotógrafo Pedro Martinelli tratou da comida dos índios da Amazônia, que ele conhece como ninguém, e o Gabeira, da sua experiência com a macrobiótica. E o assunto do Guilherme Studart, que edita um guia dos botecos do Rio, foi comida de boteco um universo em expansão.
Anos atrás, eu e o Armando Coelho Borges, que depois escreveria sobre gastronomia na imprensa de São Paulo, ajudamos a criar um clube de gourmets em Porto Alegre. Como éramos os únicos do grupo que não sabiam cozinhar, ficou acertado que entraríamos na categoria de sócio atleta. E não decepcionamos: dispensados de entrar na cozinha, tivemos um ótimo desempenho na mesa. Me senti um pouco como sócio atleta no evento do Paladar.
Sem saber cozinhar e como é tarde demais para aprender, não aproveitei nada das aulas como a do Edinho Engel sobre as muitas variedades de feijão e seu preparo, ou a da Helena Rizzo sobre nhoques feitos de mandioca, a não ser os pratinhos servidos para a plateia com o magnífico resultado final da arte de cada chef, quando gemi mais alto do que qualquer um.
Também não podia competir com a Amazônia, a macrobiótica, as empadas de Belo Horizonte, os bolinhos de bacalhau do Rio – e, meu Deus, a Araraquara do Loyola – nas minhas reminiscências.
Palestrar sobre o quê? Me lembrei de uma história que fazia parte do folclore da família. Com meus quatro ou cinco anos de idade ganhei um carrinho em miniatura, daqueles em que as partes de um carro de verdade são minuciosamente reproduzidas, provavelmente importado e certamente caro.
Estava brincando com o carrinho na frente da casa da minha avó quando passou um garoto com um balaio vendendo pastéis de carne. O garoto me propôs uma troca: um pastel pelo carrinho.
Aceitei na hora. Com quatro ou cinco anos de idade, defini minhas prioridades para o resto da vida. Até hoje acho que foi uma boa troca. E ainda dou qualquer coisa por um bom pastel de carne.
Comecei minha “palestra” com este episódio definidor. Botei “palestra” aí entre aspas porque em seguida me limitei a ler coisas que já tinha escrito sobre minhas relações com comida, paladar, restaurantes, etc., depois daquele pastel primordial. E preciso fazer uma confissão.
Só aceitei participar do evento pela oportunidade que ele me traria de provar pratos feitos por alguns dos melhores cozinheiros do país, sem pagar nada. Estou fazendo “mmmmm” até agora.
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