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quarta-feira, 31 de agosto de 2011
31 de agosto de 2011 | N° 16810
ARTIGOS - Esther Pillar Grossi*
Existe caminho
É absolutamente incompreensível a falta de lógica entre as notícias de frequentes e aterradoras avaliações de aprendizagem com índices terrivelmente baixos e as análises de seus porquês. Porém, muito pior ainda são os encaminhamentos ventilados e/ou postos em prática.
Na semana passada, foram divulgados os resultados de mais uma avaliação de conhecimentos realizada com 6 mil alunos, encomendada pela ONG Todos pela Educação. Ela foi aplicada em alunos que concluíram o 3º ano do Ensino Fundamental. Os resultados foram desastrosos, tanto em matemática quanto em leitura e escrita.
Que análises apareceram a partir desses resultados?
Segundo a matéria jornalística, a senhora secretária da Educação Básica do Ministério da Educação afirmou que, nos últimos anos, os governos municipais, estaduais e federal focaram mais na alfabetização nos primeiros anos do Ensino Fundamental, o que poderia explicar o resultado inferior em matemática. É muito corriqueiro em análises de resultados educacionais centrar-se em comparações, relativizando o valor absoluto dos dados.
É que na alfabetização os resultados também são péssimos – menos de 50% sabem ler e escrever, pois quem não consegue identificar personagem e tema de um texto não está alfabetizado. Ele está apenas alfabético, isto é, sabe decodificar sílaba por sílaba, mas perde a palavra como um todo e, portanto, não alcança o significado do que está escrito.
Concretiza o que acabo de explicar aquilo que contou uma professora de São Luiz Gonzaga sobre sua mãe. Relatou-nos que, pela manhã, sua mãe pega o jornal, lê uma manchete, sílaba por sílaba, e depois pergunta: “Minha filha, o que foi que eu li?”.
Somente quando se lê com compreensão, porque se consegue captar globalmente cada palavra, fecha-se um esquema de pensamento, que é o que pode ser registrado estavelmente no organismo, em nosso cérebro.
Então, esses alunos – mais de 50% dos que concluíram o 3º ano – não estão alfabetizados depois de três anos de escolaridade. A cada início de ano eles estarão em piores condições do que quando ingressaram no 1º ano. Eles começam o ano letivo seguinte na condição de quem fracassou, de quem não chegou aonde era esperado, aonde outros chegaram massivamente aos seis anos.
E o mais grave nesta situação é que eles se consideram responsáveis por seu fracasso. Eles é que foram desatentos, desinteressados, mal comportados e, para completar seu sentimento de culpa, eles concluem que não são inteligentes como os demais.
Aí, além de uma boa didática para a alfabetização propriamente dita, faz-se imprescindível uma poderosa pedagogia para desfazer o estigma de incompetência que se infiltrou no consciente e no inconsciente do nosso querido aluno, a quem se julgou muito justo e adequado conceder-lhe três anos para que se alfabetize.
Vejamos agora que solução se aponta para o problema. O pesquisador do Inep João Horta propõe um aumento da jornada escolar para resolver o problema. “Não tem como superar uma diferença tão grande em três, quatro horas de aula por dia.”
Ora, a causa do problema não está nas horas de aula que o aluno permanece na escola. As causas verdadeiras residem em uma didática para a alfabetização superada cientificamente e em uma decisão equivocada a respeito dos tempos escolares.
Uma criança que vem para a escola, oriunda de um ambiente alfabetizador empobrecido porque não conta com pessoas que leem e escrevem em sua casa, precisa de uma metodologia de ensino muito diferente daquela organizada para crianças filhas de pais que leem e escrevem. Não é que ela não possa se alfabetizar. Ela pode e bem, se o for em um ano letivo com uma didática atualizada e já disponível nos meios educacionais.
Existe caminho. Mas é preciso utilizá-lo.
*Educadora
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