quinta-feira, 4 de agosto de 2011



04 de agosto de 2011 | N° 16782
PAULO SANT’ANA


Ódio combinado

Ontem, por volta de meia-noite, Paulo Odone decidiu que Julinho Camargo seria dispensado e substituído por Celso Roth, que será anunciado hoje à tarde.

No Roda Viva, da TV Cultura, segunda-feira, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, citou uma frase de Ulysses Guimarães: “Na política, até o ódio tem de ser combinado”.

Eu aproveito para dizer que no casamento, na relação direta entre marido e mulher, até o ódio entre os dois tem de ser combinado.

Isso quer dizer que, em última análise, pode o casal até odiar-se de vez em quando, mas, na hora do pega pra capar, os dois têm de estar lealmente juntos.

De repente, embora cultivada por longo tempo a sua busca, recuperei a felicidade.

E, agora, o que faço com ela?

Voltando ao ódio combinado entre os casais, o amor entre eles não necessita ser combinado, pois seria a normalidade.

O ódio, sim, tem de ser orquestrado, porque, se o casamento quiser ser mantido, é imprescindível que as brigas entre o casal sejam superadas, esquecidas.

Vou mais longe: é permitido entre os casais o ódio, a raiva.

O que não é permitido é o rancor.

Se um casal se licencia para o rancor, está condenada ao fracasso a relação.

O rancor só necessita para seu sucesso de um nervo exposto qualquer em um dos dois ou nos dois cônjuges.

Qualquer atritozinho que haja entre o casal, pronto, está aceso o rastilho do rompimento.

Quando escrevi a coluna de anteontem, aquela que falava da homenagem que eu prestava a todos os que não tinham conseguido mudar o seu mau destino, finalizando que a coluna não passava de uma auto-homenagem que fazia a mim mesmo, vencido por meu sinistro destino – aquela coluna, quando a escrevi aqui no computador, disse para meus companheiros da sala: “É uma das melhores colunas que escrevi em toda a minha vida”.

Não deu outra. A repercussão foi enorme nas ruas, por onde andei, e aqui na Redação, por onde não andei, mas soube por terceiros.

É que incrivelmente atingi todos os leitores. Quem é que não queria que seu destino, pelo menos parcialmente, fosse diferente do que parece que vai ser?

Acertei na mosca. Foi um tal de gente sensibilizada, que muitas pessoas se deitaram a derramar lágrimas, chorando o seu próprio destino.

E eu previ que a coluna faria sucesso, um instante após escrevê-la. A gente tem essas premonições. O segredo é que, quanto mais gente a coluna atingir em seu conteúdo, mais êxito ela terá.

Aquela coluna foi bombástica. Porque foi humana, no sentido de que todos somos muitas vezes vítimas do nosso próprio destino, que não podemos modificar.

Quem leu viu que eu acertei na mosca. E, quando um colunista acerta na mosca, sai da frente, que ele estará ganhando crédito com seus leitores. Crédito até para fazer uma coluna água com açúcar, como a que fiz ontem.

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