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terça-feira, 9 de agosto de 2011
09 de agosto de 2011 | N° 16787
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Uma vida plena
Hoje eu quero paz. Quando era mais jovem, tinha como ideal uma vida intensa e agitada, em que não faltassem projetos, livros, amores, desejos, sonhos e movimentação.
Hoje eu almejo serenidade. Há épocas para desfrutar cada momento, querer a muitas mulheres, sofrer dessa dor boa que é apaixonar-se. Há tempos para mergulhar em paixão, numa voragem irresistível e magnífica. Há instantes para existir ardentemente, viajar sem horizontes, voltar a lugares onde se foi feliz.
Mas há também ocasiões para traçar um balanço de todas as belas experiências vividas, não para recriá-las, mas para fazê-las se reinaugurar na memória. Tive uma bela experiência de vida. Mas agora quero fruí-la como quem percorre as páginas de um diário e a reinventa com prazer.
Berlim, 1982. Na segunda de minhas estadas naquela cidade, então dividida contra si mesma, eu despertava nas manhãs de domingo com um sentimento inaugural do mundo. A alma leve, o coração tranquilo, eu refletia que tinha estudado bem toda a semana e agora havia um dia inteiro para ser feliz.
Nova York, 1984. O happy hour do café do Hotel Rochester me enchia de doces expectativas, mas nenhuma tão sedutora como a da loira de olhos azuis que pediu licença para sentar à minha mesa, no que foi o prelúdio de momentos inesquecíveis.
Paris, 1980. Eu tomando um vinho no Café des Beaux Arts e o Rio Sena fluindo mansamente diante de mim. E em minha companhia aquela suave sensação de que eu era feliz pelo simples ato de existir.
Ilha de Rodes, 2002. Eu e uma amiga descendo a ladeira que levava ao Colosso e escalando num bar para um café. Éramos como duas crianças, relembrando coisas da viagem de transatlântico e recordando nossas próprias infâncias. E à nossa frente as águas esmeralda do mar.
E tudo isso é somente um prólogo. Há um tempo de viver e um tempo de reviver. Eu revivo minhas lembranças com uma única e grande certeza.
Tenho uma vida plena
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