segunda-feira, 29 de agosto de 2011



29 de agosto de 2011 | N° 16808
GRE-NAL


Sem ressalvas

Sem considerações. Sem ressalvas. Poucas vezes, na história mais que centenária do Gre-Nal, um time alcançou uma vitória tão irretorquível quanto foi a do Grêmio sobre o Inter, ontem, no Olímpico. O placar de 2 a 1 não reproduziu o que foi o jogo. Porque o domínio do Grêmio foi pétreo, foi absoluto.

Um dado dá a medida do que ocorreu no clássico: o Inter construiu uma única oportunidade real de gol, justamente a que acabou no gol de Índio: uma falta cobrada por Oscar que acabou na cabeça do zagueiro goleador do Inter, aos 26 minutos.

E foi só.

De resto, o Grêmio passou a tarde rondando a área colorada, ameaçando, sempre na iminência de marcar. O esquema de Celso Roth funcionou. Talvez tenha sido montado meio que às pressas, devido à lesão do volante Gilberto Silva, no sábado, mas funcionou. Principalmente porque o Grêmio soube aproveitar bem a habilidade dos seus laterais. Mário Fernandes teve uma atuação estrondosa.

Não errou um só lance. Venceu todas as divididas, não foi driblado uma única vez e, para arrematar, foi uma aguda arma de ataque pela direita. Foi dele a jogada do primeiro gol do Grêmio, aos 15 minutos: depois de ter ido à linha de fundo, Mário passou para trás, rasteiro. Marquinhos desviou com o bico da chuteira esquerda e comprovou sua vocação de meia que faz gols.

Antes disso, o Grêmio já construíra duas boas oportunidades de marcar, aos seis, com Julio César entrando livre na área e chutando cruzado para fora, e aos 11, quando Índio recuou errado e quase marcou contra. Muriel espalmou, a bola voltou para Julio César, que cruzou bem e André Lima perdeu na pequena área.

Julio César, aliás, foi uma arma eficiente do time gremista, sobretudo no primeiro tempo, levando vantagem sobre Glaydson a partida inteira, auxiliado pelo elétrico argentino Escudero, cruzando, batendo na diagonal, mas também recompondo na defesa, marcando com boa eficiência.

Mas quem demonstrou eficiência na marcação, mesmo, foram os zagueiros do Grêmio. Vilson e Saimon foram impecáveis. Saimon, que cada vez que entra arruma a defesa, ontem foi mais do que eficiente: foi um gigante. Porque marcou o melhor centroavante do Brasil na atualidade.

Com Saimon em seu encalce, Damião não conseguiu jogar. Saimon foi melhor na antecipação, na força e na bola aérea. Damião meteu a cabeça na bola só uma vez, no fim da partida, numa testada fraca que foi amortecida pelos braços de Victor.

Saimon deu-se o luxo de sofrer um pênalti, aos 27 minutos, não assinalado pelo árbitro. Quatro minutos depois, o Grêmio desenhou outra chance, numa jogada envolvente de Marquinhos e Escudero que terminou em um chute de Fernando defendido por Muriel. No primeiro tempo o Grêmio esteve próximo de marcar outras duas vezes, aos 37 e aos 45, em jogadas de Júlio César.

No primeiro tempo, portanto, foram sete chances para o Grêmio e uma para o Inter. No segundo, Escudero passou para Mário Fernandes dentro da área aos 13 minutos. Muriel derrubou o lateral do Grêmio. Outro pênalti não assinalado. Aos 23 minutos o Inter deu seu único chute a gol: Oscar, de longe. Victor espalmou para escanteio.

Bem marcado, Oscar não conseguiu dar suas usuais arremetidas rumo ao gol, mas ao menos foi insinuante em cobranças de falta e escanteio. Já Andrezinho, Kléber e Dellatorre se diluíram na marcação. Pouco participaram do jogo, ficaram assistindo à movimentação dos três meias gremistas, com destaque para Escudero, que, segundo Celso Roth, é um jogador “intrínseco”, seja lá o que o técnico quer dizer com isso.

Aos 32, foi Escudero quem entrou a drible na área do Inter. Índio o derrubou com um ombraço. Desta vez o árbitro marcou o pênalti. Enquanto Douglas se preparava para cobrar, o goleiro Victor cravava os joelhos na linha da grande área, enrolava-se todo, como se fosse um muçulmano orando para Meca, e, de fato, orava. No meio do campo, Fernando também rezava, ajoelhado. E, no ataque, André Lima erguia os braços para o firmamento, ele também em atitude de prece. Nenhum dos três viu a cobrança perfeita de Douglas: 2 a 1.

Mais três minutos e novamente Escudero invadiu a drible a área do Inter e chutou forte. Muriel espalmou a escanteio. Agora, Leandro já estava em campo, driblando, investindo em corrida vertical área adentro, tornando-se o atacante mais perigoso da tarde do Olímpico.

Aos 40, Leandro recebeu de Julio César, chutou, mas Índio interceptou. A partida terminou com o Grêmio retendo a bola, esperando o tempo passar para comemorar.

No final, o próprio técnico Dorival Junior reconheceu a superioridade do adversário. Não havia com não reconhecer. Não havia como fazer reparos. Talvez o Inter estivesse cansado, talvez estivesse desconcentrado. Pouco importa. Era o Inter de Oscar e Damião. Era o Inter campeão da Recopa. Era, afinal, o Inter e isso quer dizer que era Gre-Nal. Vencer Gre-Nal sempre é especial.

david.coimbra@zerohora.com.br

Nenhum comentário: