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quarta-feira, 3 de agosto de 2011
03 de agosto de 2011 | N° 16781
DIANA CORSO
Viva e deixe morrer
Fiquei triste com a morte Amy Winehouse. Dizem que as drogas e bebedeiras a destruíram. Sim e não. Parece que terminou seus dias tentando afogar sua angústia com o narcótico mais à mão e de certa forma ela tinha razão: para alguns a lucidez pode ser insuportável.
Apesar disso, acredito que foi a incapacidade de distinguir-se da personagem que criou que lhe foi realmente letal. Estranhamente bonita, vozarrão emocionante e letras corajosas, conquistou as graças da fama. Viveu rápido, morreu aos 27 anos, no prenúncio da balzaquiana que ela nunca será. Nesta época em que percebemos o amadurecimento como carrasco dos nossos horizontes todas as viradas de décadas são trágicas.
Paul McCartney tinha um pouco mais que isso quando criou “Viva e deixe morrer”. Ele dizia que o coração jovem é um livro aberto, mas este mundo leva a sofrimentos e desistências que fazem com que deixemos de simplesmente pensar “viva e deixe viver”. Realizamos alguns sonhos, mas não faltam contrariedades e limitações.
Cada frustração é uma pequena morte, quer seja de um ideal, de um desejo. Falam que vivemos um tempo sem utopias. Bobagem, sobre a geração de Amy pesa a nossa mais cara utopia: a adolescência como a grande época da vida, momento de tirar todo o suco antes da mesmice da maturidade. Amy tinha uma mente inquieta, seu romantismo se alimentava de desencontros e embebedava sua urgência de amar e viver, parece nunca ter tido essa leveza jovem cantada pelo ex-Beatle.
A sociedade contemporânea merece todas as críticas por alimentar-se dessa competição nervosa para chegar a lugar nenhum, por essa gincana de quinquilharias, sustentada pela máquina de moer sonhos a que chamamos de bom senso. A resistência adolescente a crescer tornou-se uma das formas de questioná-la. Winnicott dizia que os adolescentes são passageiros, mas numa sociedade a imaturidade não o é: sempre haverá novos candidatos a carregá-la por um tempo de suas vidas.
Ele lembrava ainda que é nessa saudável imaturidade que se inspiram as revoluções, as utopias. Gostaríamos de morar nelas, mas infelizmente, para não crescer é preciso morrer.
Os jovens se arriscam, tentam ignorar a morte, mas vivem a toreá-la - Eu morri uma centena de vezes, cantava Amy. Já a maturidade sabe que tem um prazo e odeia isso. Enquanto fantasia com as noites de glórias e excessos dos adolescentes, acorda para tomar seu iogurte com cereais e ir ao trabalho. Em sonhos somos onipotentes, na prática sabemos que basta viver para morrer um pouco a cada dia.
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