sexta-feira, 26 de agosto de 2011



26 de agosto de 2011 | N° 16805
DAVID COIMBRA


Essa superestimada corrupção

A corrupção é menos importante do que acreditam os brasileiros. Mais: sempre que os brasileiros se moveram motivados pelo combate à corrupção, erraram feio. Uma das consequências mais graves desse erro fez aniversário de 50 anos ontem.

Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciava à presidência da República, gerando a crise que redundaria no golpe de Estado de 1964, na ditadura militar de 21 anos de duração e em todas as pequenas, médias e grandes mazelas daí advindas.

Jânio Quadros foi eleito, precisamente, para combater a corrupção. O símbolo da sua campanha era a vassoura, que iria varrer os corruptos do governo. Ele era um jovem, um destemido, um homem que afrontava os outros homens, fossem quem fossem. O partido de Jânio, o PTN, era frágil, ele não tinha base no Congresso. Naturalmente, criticava os políticos e demonstrava pouco apreço à democracia participativa.

Depois de Jânio, o Brasil passou quase 30 anos sem votar para presidente. Isso só voltou a acontecer em 1989. E, aí, os brasileiros elegeram um jovem, um destemido, um homem que afrontava os outros homens, fossem quem fossem. Elegeu um candidato com um partido frágil, o PRN, que, naturalmente, criticava os políticos e demonstrava pouco apreço à democracia participativa.

Elegeu um candidato que arrostava ter como primeiríssima prioridade o combate à corrupção: Fernando Collor, o caçador de marajás. Não foi por acaso que o fim do mandato de ambos foi semelhante.

O combate à corrupção é importante, mas não pode ser o mais importante de um governo. Porque a honestidade é condição básica para qualquer um ser qualquer coisa, desde presidente da República a almoxarife.

O presidente da República tem de cuidar da boa administração do país. Tem de fazer o país andar. E, durante o andar, combater a corrupção. A corrupção é sempre a consequência de um mau governo, nunca a causa.

O melhor do governo Dilma não pode ser o combate à corrupção. O combate à corrupção tem de ser um dos tantos fatores que façam do governo de Dilma melhor.

Terça passada, sete crianças de menos de 12 anos foram apreendidas por assalto em São Paulo. Quebraram toda a sede do Conselho Tutelar, lutavam selvagemente, tentavam chutar os policiais, pareciam feras. Como os pais delas não apareceram para buscá-las, as autoridades as liberaram, pois a legislação brasileira não permite que crianças permaneçam apreendidas.

Triste ingenuidade essa lei. Uma criança, quando se rebela, o que ela pede justamente é a repreensão. Quer ser reprimida, porque quer que alguém se importe com ela. Se os pais dessas crianças não ligam para elas, o Estado deveria tutelá-las. Crianças abandonadas pela família têm o DIREITO de serem cuidadas pelo Estado. E ter cuidado também é mandar, obrigar, deter e censurar. Também é dizer não.

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