sábado, 6 de agosto de 2011



06 de agosto de 2011 | N° 16784
NILSON SOUZA


Inércia demográfica

Escrevi em 1998 uma crônica intitulada “O seisbilionésimozinho”, que tratava do nascimento do bebê que elevaria a população da Terra para 6 bilhões de habitantes. No ano seguinte, quando a marca foi atingida, a ONU previu que o mundo levaria 14 anos para chegar aos 7 bi. Levou apenas 12.

Será em outubro próximo, de acordo com os previsores. Eles arriscam, inclusive, a vaticinar o nascimento em algum lugar da Índia, que em breve será o país mais populoso do planeta, deixando a China para trás. Os chineses, como sabemos, têm uma política draconiana de controle da natalidade, um filho por casal, e estamos conversados.

Ainda assim, a população da China, que é hoje de 1,6 bilhão de pessoas, só começará a diminuir a partir de 2030 por causa da tal inércia demográfica – um conceito científico que explica por que as populações continuam crescendo mesmo quando a taxa de fecundidade está abaixo do índice de reposição.

Por exemplo: o Brasil já alcançou esta taxa reducionista em 2006, mas a população continua crescendo porque a quantidade de mulheres em período reprodutivo é muito maior do que o de pessoas em idade avançada, que não terão mais filhos. Resumo da ópera: a população brasileira só começará a regredir por volta de 2040 e a mundial fará a curva em 2050, quando o planeta tiver 9 bilhões de habitantes.

São apenas previsões, sempre é bom lembrar. Os tsunamis estão aí para provar que não só o homem é imprevisível na sua capacidade destruidora, mas a natureza também. Possivelmente, os dinossauros também se julgavam imortais. Tem ainda o desafio de arranjar alimento para toda essa gente e de impedir que entupam o Amazonas com pneus velhos. Mas não é esse o objetivo deste comentário.

O que me move é o espanto de ver que a população humana, mesmo com as guerras e os acidentes de trânsito, aumentou em 1 bilhão de pessoas entre uma crônica e outra que escrevi. Custo a acreditar que presenciei tamanho fenômeno. Ainda mais sabendo que o mundo precisou de 125 anos para passar de 1 bilhão para 2 bilhões de almas encarnadas.

Pois bem, naquela ocasião, ao saudar a chegada do bebê 6.000.000.000, lamentei: “Seis bi de cérebros ditos inteligentes e ainda não fomos capazes de descobrir a fórmula da paz. Seis bi de corações ditos humanos e ainda não aprendemos o significado da solidariedade. Seis bi de vidas dependentes da natureza e ainda não aprendemos a respeitá-la”. Em breve seremos sete bi – e nenhuma dessas metas parece visível no horizonte.

Será a tal inércia demográfica?

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