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terça-feira, 1 de março de 2011
01 de março de 2011 | N° 16626
CLAUDIA TAJES
Para sempre titular
Na Feira do Livro de 2010, fim de tarde de um sábado com ar de feriado, Moacyr Scliar esperava seus leitores em uma mesa do pavilhão de autógrafos. Estava sozinho. Eu já tinha o Manual da Paixão Solitária, romance lançado meses antes, mas ninguém vê um Imortal dando sopa impunemente. Comprei outro exemplar e fui atrás do meu autógrafo. E ele: não vale, já assinei um desses pra ti na livraria.
Pretensão de quem mal conheceu o Moacyr, mas acho que essa história simples fala um pouquinho sobre o jeito dele. Em meio à multidão que compareceu ao lançamento do seu livro, o escritor lembrou de uma fã extraviada.
Aliás, se o meu livro autografado cair na mão de algum extraterrestre, a criatura vai pensar que houve um engano, e que as palavras do Moacyr eram para outra autora, muito mais importante.
Mas o Moacyr Scliar era assim mesmo, generoso com todos. Pode procurar: ninguém escreveu tantos prefácios e orelhas para escritores famosos e iniciantes. E poucos estiveram em tantas palestras, encontros e congressos, e em tantos lugares diferentes, e de bom humor, ainda por cima. Atencioso, não fugia das fotos de celular e dos autógrafos em guardanapos de papel.
Nas vezes em que o convidamos para ir ao Sarau Elétrico, evento de literatura no bar Ocidente que, na teoria e pela informalidade, talvez não interessasse a um autor consagrado, Moacyr aceitou. Leu trechos da sua obra, dividiu lembranças, contou passagens da sua vida em noites de casa lotada.
Foi sempre tão bom que, no final, os professores Moreno e Fischer, a Katia Suman e eu pensávamos: vamos esperar uns meses, para não parecer abuso, e chamamos o Moacyr de novo. Se tivesse dado tempo, aposto que ele iria.
Domingo, no jogo do Grêmio com o Cruzeiro, quando a imagem do Moacyr surgiu no telão do Olímpico para o um minuto de silêncio em memória do mais ilustre torcedor cruzeirista, não se ouviu silêncio algum. Dentro e fora do campo, muito mais de um minuto de aplausos. Tinha mesmo que ser assim para alguém que, como ele, viveu bem com todo mundo. E se, depois do apito do juiz, a pancadaria pegou, aí já são as coisas do Gauchão. Nem o Moacyr estranharia.
Esta é uma coluna interina para um titular que não vai voltar. Ou, para não ficar tão triste, para quem nunca vai deixar de ser titular. Não importa de onde esteja escrevendo neste exato momento.
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