domingo, 4 de outubro de 2009


CLÓVIS ROSSI

"Down there" e primeira classe

ESTOCOLMO - Um dia de 1997 aportei em Amsterdã para cobrir uma cúpula da União Europeia. Peguei a credencial, pendurei no peito e fui tentar entender o mapa das tendas instaladas em um parque público da cidade, que seriam o QG do encontro.

Aproxima-se um jornalista holandês, vê "Brazilie" escrito na credencial, abre o olhão e diz: "You came all the way from down there just to this?". Tradução livre: "Você veio lá do fundão do mundo para isto?". Interpretação mais livre ainda: "O que um bugre está fazendo no meio dos brancos?".

Nos 12 anos seguintes, o "Brasil" no meu peito, nas credenciais de cúpulas, passou a ser cada vez menos "down there", em Hokkaido, no Japão, e Áquila, na Itália, em Londres como em Pittsburgh.

Sou, portanto, testemunha viva da história da transformação do Brasil de "down there" para "primeira classe", como disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva após "o Rio derrotar Obama", segundo a manchete de ontem do "Financial Times".

Mas, olho, nada de perder a perspectiva: os que fizeram a viagem são poucos, pouquíssimos políticos, um bom número de diplomatas e funcionários públicos graduados, um número crescente, mas ainda pequeno de empresários. É uma vanguarda que, se olhar para trás, verá que a grande massa ainda come poeira "down there".

PS - A partir de amanhã, o titular deste espaço passa a ser Fernando de Barros e Silva, que já o ocupava às segundas-feiras e editava o caderno Brasil. Mas não se entusiasme muito porque eu continuarei aparecendo por aqui aos domingos e quintas-feiras, além de inaugurar uma coluna, aos sábados, no caderno Mundo, o meu habitat predileto desde criancinha (literalmente).

Não por acaso, chama-se "Janela para o Mundo" a coluna eletrônica que assino na Folha Online nos demais dias da semana.

crossi@uol.com.br

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