sábado, 10 de outubro de 2009



11 de outubro de 2009 | N° 16121
MOACYR SCLIAR


Voltando à infância

O Dia da Criança é um dia de alegria, um dia de conviver com os filhos e também um dia para lembrar a infância. Voltar a ser criança é um sonho que todo adulto tem, e que em parte realiza quando tem filhos. Aí a gente pode se permitir brincar como criança, rir como criança e até ter sustos como criança.

Uma oportunidade que às vezes surge de maneira inesperada. A primeira e única vez que andei de montanha-russa foi na Disneylândia, na Califórnia. Era uma montanha-russa enorme, altíssima, os vagonetes voando sobre os trilhos a velocidades fantásticas.

Valeria a pena tentar. Achei que sim. Eu sabia que era aterrorizante, que eu iria dar vexame, mas como ninguém me conhecia, qual era o problema? Embarquei, dei o esperado vexame gritando a plenos pulmões (para espanto dos meninos americanos que estavam no vagonete comigo), desembarquei mais morto que vivo. Mas feliz.

Na semana passada, minha mulher e eu vivemos outra dessas aventuras, no Museu Aeroespacial de Washington. Lugar fantástico: toda a história da aviação está ali, desde os tempos heroicos das primeiras aeronaves até a era espacial – neste ano, por causa do aniversário da chegada do homem à Lua, há uma grande exposição sobre o tema. A gente vê os aviões, e os satélites, e as naves espaciais, e os mísseis.

Em algumas dessas aeronaves e espaçonaves podemos entrar e ter, ao menos por alguns momentos a sensação do que são essas incríveis viagens.

Em uma seção é oferecida a oportunidade de pilotar um avião de combate. Na verdade não é um avião; é uma espécie de cabine, capaz de se movimentar, e equipada com uma tela que dá a ilusão do voo. Existem dois modelos: um com movimentos limitados e outro que faz tudo o que um avião de verdade pode fazer. Foi esse que escolhemos.

Entramos na cabine, eu como piloto, Judith, a meu lado, como artilheira. A moça que nos orientava mastigou algumas instruções, fez com que colocássemos os cintos de segurança e, detalhe preocupante, baixou sobre nós uma espécie de concha plástica, o que já antecipava o que estava por vir.

Decolamos, e logo ficou claro que aquele era um voo absolutamente maluco. Éramos jogados de um lado para outro e de repente estávamos de cabeça para baixo, eu tentando controlar a aeronave, Judith agarrando-se no banco.

O voo durou exatos seis minutos – os seis minutos mais longos de nossas vidas. Finalmente pousamos, mais mortos que vivos. A moça nos ajudou a sair e deu-nos uma notícia surpreendente: Judith tinha, sem saber como, abatido um avião inimigo. Quem era esse inimigo, onde estava o tal avião, e como tínhamos conseguido acabar com ele ficou sendo um mistério. Como os mistérios que povoam nossa infância e que com ela voam.

Agradeço as mensagens de Vilmar Machado, Clailton K. Ferreira, Antenor E. Fernandez, Bruno Boeckel, Maria Morales H.Dias, Roberto Girardi, Telmo Kiguel, Volson Cadore, Marcelo Zerbes, Renato Lampert, Ronaldo José Sinderman, Adriana M. Barros, Edson A. M. Ferreira, Luiz R. M. Centurião. Um abraço para vocês, amigos.

Entramos na cabine, eu como piloto, Judith como artilheira. Baixou sobre nós uma concha plástica que antecipava o que estava por vir.

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