sábado, 31 de outubro de 2009



01 de novembro de 2009
N° 16142 - DAVID COIMBRAO


Os leões e os germanos

Os germanos eram assustadores, e esse adjetivo não é força de expressão. Numa das primeiras vezes em que os romanos depararam com eles ocorreu o seguinte: os germanos emergiram das sombras da Floresta Negra urrando feito selvagens que eram, um som horrendo, como se predadores monstruosos investissem sobre a legião.

Detrás de seus escudos de madeira revestida com bronze, os romanos viram correr em sua direção aqueles homens de estatura descomunal, como se fossem todos zagueiros do Gaúcho de Passo Fundo, e de músculos desenvolvidos pela vida ao ar livre, pelas caçadas e pelas eternas guerras tribais.

As longas cabeleiras amarelas e vermelhas dos germanos esvoaçavam e davam uma aparência ainda mais ameaçadora aos seus rostos barbados.

Por um momento, os legionários ficaram petrificados debaixo de seus elmos. No momento seguinte, não vacilaram: giraram em cima das sandálias e correram com devoção a fim de salvar suas peles latinas. Veni, vidi, corri.

Depois que os romanos se acostumaram com a visão pouco ortodoxa dos guerreiros germanos em ação, não entraram mais em pânico e até passaram a derrotá-los, isso graças à disciplina tática das legiões. Mesmo assim, os germanos jamais se submeteram completamente ao Império, nem quando o Império os absorveu. Por volta do ano 200 da Era Cristã, o imperador filósofo, Marco Aurélio, já nem morava mais em Roma, vivia nas fronteiras, vigiando os movimentos inquietos e inquietantes dos bárbaros.

Um dia, o imperador teve uma ideia que julgou supimpa: mandou buscar leões da África e, numa batalha perto de Vindobona, a atual Viena, açulou-os sobre os germanos. Calculava, Marco Aurélio, que os bárbaros ficariam aterrorizados com o ataque daquelas feras das quais nunca nem tinham ouvido falar.

De fato, numa época sem National Geographic, os germanos não conheciam leões, e essa foi a sorte deles. Acreditando que fossem apenas cães enormes, os louros guerreiros da Alemanha não só não fugiram como chacinaram os bichos a golpes de espada, lança e clava, pouco se importando com a repercussão entre os protetores dos animais.

Nos dois casos, como se viu, o medo foi decisivo. Os romanos só bateram os germanos quando perderam o medo deles; os germanos mataram os leões porque não tinham medo deles.

O medo, muitas vezes, é o que faz diferença na batalha. Um jogo de futebol é a representação moderna de uma batalha, nada mais do que isso. Em 2009, as legiões porto-alegrenses têm sido batidas pelo medo. O Grêmio, pelo medo que o paralisa quando sai de casa.

O Inter, pelo medo que o faz estremecer em cada decisão. Os verdadeiros conquistadores, não é que eles não sintam medo: eles o dominam. Grêmio e Inter, não. Grêmio e Inter, o medo é que os domina. E um coração que vive com medo é, sempre, um coração que sente o pior dos medos: o medo de ser feliz.

O tripé

Grêmio e Inter têm jogadores talhados para o esquema 3-5-2, embora eu aqui não seja um entusiasta desta forma de jogar. O Grêmio dispõe de um trio final, Victor, Mário Fernandes e Réver, que talvez seja o melhor do Brasil.

Com um Leo ou um Rafael Marques entre os dois zagueiros, aí está um alvissareiro começo de time. Na ala direita, bem que poderiam convencer o Souza a correr por lá. O Souza é ótimo, mas não pode ser o centro técnico do time. No meio-campo, Douglas Costa, que, se vê, Douglas Costa está diferente, está confiante – perdeu o medo!

O Inter não tem um tripé de defesa tão virtuoso, mas sobejam-lhe jogadores competentes nas demais posições, onde o Grêmio é só escassez. No Inter há abundância de bons jogadores, titulares e reservas. Falta o ajuste, mas, olha, o Mário Sérgio parece saber como fazer o ajuste.

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