sábado, 3 de outubro de 2009



04 de outubro de 2009
N° 16114 - PAULO SANT’ANA


A Olimpíada do abismo

O Brasil se prepara para gastar mais de R$ 200 bilhões na Olimpíada, quando com 10% desse dinheiro poderia salvar todos os que morrem de doenças não atendidas pelo SUS, apodrecem e morrem nas filas de consultas e cirurgias do SUS.

O Brasil, em 2016, vai arremessar o peso, vai saltar no hipismo das varas, vai emaranhar-se no tatame do judô com seus adversários, vai esgrimir, vai flechar, vai saltar em distância, vai nadar, vai jogar futebol, basquete e vôlei, vai saltar com vara o Brasil, vai saltar em altura, vai dar um salto triplo no rumo do... abismo.

O velho Eugênio Steffen, dono de um armazém de secos e molhados em São Leopoldo no século passado, costumava dizer a todos os que iam encontrá-lo: “Tudo o que se pode pagar com dinheiro é barato, seja que preço for”.

O velho Steffen tinha razão. O que ele queria dizer na sua sabedoria de comerciante é que só tem valor na vida o que não custa dinheiro.

Ele afetava com isso que só o amor, a solidariedade, o carinho, a ajuda moral ao próximo, só estas coisas tinham grande significado. O resto era tudo barato.

Era nos armazéns de secos e molhados e nas barbearias do século passado que transitava mais translúcida a verdade.

Não tenho dúvida, como devo ter dito isso no aniversário de 70 anos do Reginaldo Pujol, que só depois dos 70 anos nós, homens, podemos ser felizes.

É impossível ser feliz na juventude e na maturidade, só se tem a oportunidade de ser feliz na velhice.

Dou um exemplo: como poderia ser eu feliz na juventude e na maturidade se o apartamento que comprei para viver com minha família, quando eu tinha 38 anos, levei para pagar as prestações 25 anos?

Pagar essas 300 prestações da minha sagrada casa própria me custou 25 anos sem dormir, com medo de que pudesse vir a não poder pagar e perder a minha casa própria e ser assim jogado na vala incerta e espúria do aluguel.

É humano que obriguem uma pessoa a ficar pagando prestações de seu primeiro e único apartamento durante 25 anos? Isso é uma selvagem desumanidade.

Sendo assim, como pode ser feliz quem é jovem, ou homem ou mulher maduros? Depois da casa própria, tem outro pesadelo: a casa da praia. E por aí vai a sucessão de aflições.

E não é só isso. Quem não é velho não pode ser feliz também porque não está próximo da morte, por mais paradoxal que isso possa parecer.

O velho tem condições de ser feliz porque a morte para ele não é imponderável, é um fato próximo e sólido e concreto.

Já o jovem não é feliz porque ele lida confuso com a incerteza da morte, portanto do seu futuro. Já o velho pode ser tranquilo e feliz porque, tendo certeza da morte, não tem mais de preocupar-se em pensar no futuro.

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