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segunda-feira, 12 de outubro de 2009
12 de outubro de 2009
N° 16122 - LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Desculpas
É moda: desculpas públicas. Alguém diz algo inconveniente a uma pessoa, a um grupo étnico, a uma religião. Nos dias seguintes, com a previsibilidade de um relógio, esse alguém reúne a mídia e, cabeça baixa, olhar contrito, faz uma declaração de arrependimento e o infalível pedido de desculpas. Eis um estilo de comportamento – de origem americana – que ganhou o mundo: arrependem-se presidentes, reis, primeiros-ministros, secretários, diretores de escola, professores – enfim, todos.
O caso internacional mais recente foi a de Jimmy Carter acerca dos ataques feitos a seu companheiro de partido, Barack Obama. Atribuiu-os ao racismo e, naturalmente, pediu desculpas por atribuir ao racismo. O próprio Barack Obama, há alguns meses, reuniu algumas pessoas para uma insólita cervejada para desculpar-se por algo inconveniente que havia dito.
Há duas hipóteses para considerar: 1) a pessoa estava mentindo quando fez a declaração ofensiva; 2) a pessoa está mentindo quando faz o pedido de escusas. Sob a perspectiva ética, o quadro é lamentável.
Pior fica quando o ofendido diz aceitar as desculpas e dá o caso por encerrado: isso se assemelha aos antigos duelos, em que
os dois cavalheiros davam cada qual um tiro para o ar e com isso consideravam-se quites um com o outro. É a soberana lógica da hipocrisia, só possível numa sociedade de aparências.
Até um passado bem recente as pessoas assumiam suas ações e palavras. Se outrora houvesse a prática dos pedidos de desculpas, não existiriam a tragédia grega, nem Hamlet, nem Dom Quixote, nem Crime e Castigo.
Não existiria a literatura, enfim, pois esta nutre-se de alguma iniquidade. Pode-se imaginar Goethe reunindo os jornais da época e declarando de público que não quis provocar suicídios em massa quando lançou Os Sofrimentos do Jovem Werther? Ou Camões pedindo perdão por algumas passagens ofensivas aos islâmicos em Os Lusíadas?
Nesse sentido, é notável que o Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc tenha rejeitado o pedido de desculpas do governador André Puccinelli, do Mato Grosso do Sul, que o chamara de viado [sic] e maconheiro. Não só não aceitou como, em troco, acusou-o de coisas realmente graves, como querer a destruição do Pantanal com imensas plantações de cana-de-açúcar.
Talvez esse caminho do ministro seja o melhor para revisarmos essa prática tão nociva, a qual eleva a mentira ao patamar da sinceridade e que, bem vistas as coisas, só convence os ingênuos.
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