Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
22 de outubro de 2009 | N° 16132
PAULO SANT’ANA
O fanho e o aleijadinho
Eu não quero dizer que quem não sabe contar anedotas seja burro.
Mas quero afirmar que a pessoa que sabe contar anedotas é sempre inteligente.
Contar piadas é uma arte. É uma arte de construção. O contador da piada vai estruturando a sua história, construindo o seu edifício, que vai culminar no êxtase humorístico, não pode omitir nenhum detalhe que interesse ao clímax da história, vai tecendo a narrativa em bases sólidas de dialética, até que vem o final... e o delírio dos que ouviram.
Que tragédia ocorre quando uma pessoa que não sabe contar anedotas mete-se a tal. Que tragédia!
Pode ser a maior piada de todos os tempos, mas na voz e nos gestos do contador desastrado a história assume clima de velório.
Só tem uma coisa pior que mau contador de piadas: é piada sem graça contada por mau contador de piadas.
Embora toda piada fique sem graça quando a cargo de um contador sem graça ou desencontrado no relato.
Vejam a célebre piada do aleijadinho e do fanho.
Estava em pleno andamento a sessão de curas numa igreja, o pastor chamando os aleijados, os cegos, os surdos, os mudos, os fanhos ao palco, onde procederia à cura de cada um deles.
Chamou o aleijadinho e o fanho ao palco. Lá se foram eles, o aleijadinho com defeito básico em ambas as pernas e o fanho fanhando.
Então, o pastor milagroso mandou o fanho e o aleijadinho irem para trás da cortina do palco, com o fim de o público não vê-los e causar maior sensação na plateia.
Foi quando o pastor deu início ao ato milagroso-curativo. E pediu ao aleijadinho que atirasse a primeira muleta por cima da cortina, no chão do palco.
O fanho lá atrás da cortina viu quando o aleijadinho atirou a primeira muleta.
E o pastor, então, o momento se aproximando do culminante, mandou o aleijadinho atirar a segunda muleta por cima da cortina, com o que então iria se concluir o milagre, com o aleijadinho caminhando.
O aleijadinho atirou a segunda muleta e o pastor gritou:
– Fanho, como está a coisa por aí?
E o fanho respondeu gritando com alarma:
– O aleijadinho caiu!!!
Esta piada espetacular foi contada ontem no Sala de Redação e redundou num rotundo fracasso, só atenuado pela risada artificial do Ruy Ostermann.
E o desastre da narrativa só se deu por um detalhe, um único detalhe: o contador da piada substituiu a palavra muleta por bengala.
Ora, bengala não podia substituir muleta, porque bengala é uma só que se usa, muleta, no caso do aleijadinho, ficava melhor, pois dava ideia de aleijume grave. Nunca na história se viu qualquer pessoa usar duas bengalas, duas muletas é curial.
Ou seja, qualquer descuido na narrativa é fatal para o contador de piadas.
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