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segunda-feira, 5 de outubro de 2009
05 de outubro de 2009 | N° 16115
KLEDIR RAMIL
Síndrome de Otto
Se você é daqueles que entra no carro, gira a chave e acha que uma força sobrenatural move o veículo, lamento informar-lhe, não existe mágica. O giro da chave aciona um motorzinho elétrico que dá partida ao motorzão, uma máquina extremamente complexa e sofisticada, mas que ainda utiliza o mesmo velho princípio, desde que foi inventada, há mais de um século.
Vou tentar explicar. O coração do seu automóvel chama-se motor à combustão interna. Esse mastodonte é um bicho que aspira ar e gasolina, joga essa mistura dentro de um cilindro e comprime com um pistão.
A mistura, em alta pressão, recebe uma faísca que provoca uma explosão, forçando o pistão a um movimento no sentido contrário. O princípio básico é esse. Apaixonados por mecânica, como eu, conseguem até ver poesia no sincronismo dessa coreografia de válvulas, pistões e virabrequim.
O motor de combustão interna foi inventado pelo alemão Nikolaus Otto, em mil oitocentos e lá vai pedrada. É uma máquina obsoleta. Se alimenta de petróleo, polui a atmosfera e, pasmem, chega a gastar 80% da energia que produz, só para consumo interno. Isso mesmo, o atrito é tão grande, gera tanto calor, que sobra pouca energia pra prestar algum serviço, como movimentar um carro, por exemplo. Ao contrário do motor elétrico, que tem um aproveitamento muitas vezes melhor.
Ou seja, o motor do Otto é uma máquina que gasta quase tudo o que produz só para conseguir se manter funcionando. São os mesmos sintomas de uma patologia que se observa na máquina administrativa de certos governos e também na vida de muita gente.
Será que estamos vivendo só pra pagar as contas, pra conseguir chegar até o fim do mês? Não sobra nada? Será que a gente trabalha só pra sobreviver, pra conseguir se manter em pé? Se é assim, em que momento a gente vive? John Lennon dizia que “a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo planos para o futuro”.
Quando a gente se dá conta, já foi, passou. Mario Quintana escreveu: “A vida são deveres, que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira... Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê, passaram-se 50 anos!”.
Onde foi que se gastou tanta energia? Com que finalidade? Acho que vou repensar o modelo. Vou tentar evoluir para um sistema de vida inspirado no motor elétrico.
Uma gostosa segunda-feira e uma linda semana para você especialmente minha amiga
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