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terça-feira, 27 de outubro de 2009
BENJAMIN STEINBRUCH
Na direção certa
O IOF pode não representar a solução para o problema da valorização do real, mas é uma medida na direção certa
O LEITOR vai me perdoar, mas terei de apresentar alguns números no início deste artigo para abordar o assunto da imposição de IOF na entrada de capital financeiro no país.
É muito importante observar o que ocorre com as exportações brasileiras. Vamos examinar os números de janeiro a setembro, quando o Brasil exportou um valor acumulado de US$ 111,7 bilhões, US$ 40 bilhões a menos (-26%) do que no mesmo período do ano passado.
Essa queda tem a ver com a crise, obviamente. Mas será que ela é só consequência da crise?
Vejamos então os dados sobre exportações de produtos manufaturados. Aqui, só há um adjetivo para qualificar o que está ocorrendo: espantoso. Nas últimas décadas, as exportações de manufaturados sempre representaram algo em torno de 55% das exportações totais, chegando, em alguns anos, a pouco mais de 60%.
Neste ano, de janeiro a setembro, essa relação caiu para 42,7%. Pela primeira vez em muitas décadas, há um empate técnico entre as vendas externas de manufaturados e as de produtos básicos, ambas com US$ 47 bilhões nos primeiros nove meses do ano.
O Brasil voltou, portanto, a ter enorme dependência de exportações de produtos básicos, o que nenhuma cartilha de economia recomenda. A oscilação de preços desses produtos é normalmente muito grande, proporcionando momentos frequentes de euforia e depressão.
Agora mesmo, em plena crise, houve aumentos de commodities, que, aliás, explicam em parte a maior participação dos produtos básicos na pauta brasileira.
Quando a base de exportação são os manufaturados, existe mais estabilidade de receita externa, desde que haja uma correta política cambial.
Os jornais estão cheios de notícias para mostrar que o país vem perdendo mercados, inclusive no Mercosul. Desde calçados e têxteis até eletroeletrônicos, veículos e outras manufaturas. Portanto, além da redução natural de demanda por conta da crise, há um fator interno provocando perdas, o câmbio. O real forte dificulta as vendas, porque encarece o produto brasileiro.
Não há como negar esse fato. Um dia depois da posse do presidente Lula, em 2 de janeiro de 2003, o dólar valia R$ 3,53. Houve momentos em que a cotação chegou perto de R$ 4, mas ela só veio abaixo de R$ 2 no ano passado e agora.
O dólar está hoje, portanto, 50% aquém do valor do início do governo Lula.
É disso que se trata a discussão do IOF sobre a entrada de capitais externos para o mercado financeiro.
É ingênua a abordagem liberaloide que alguns tentam dar à questão do dólar, usando o chavão de que "o câmbio flutua porque é flutuante". O real é uma das moedas que mais oscilam, em benefício do jogo de investidores financeiros e em detrimento dos produtivos (exportadores). Os bancos centrais, em toda parte, atuam para evitar essa volatilidade do câmbio, uns de forma explícita, como o da China, e outros de forma discreta.
A imposição do IOF, portanto, é uma medida na direção certa. Pode não representar a solução para o problema da valorização do real, até porque ela decorre em parte da própria solidez mostrada pela economia brasileira durante a crise.
Como disse o "Financial Times", em editorial, "um Brasil bem-sucedido terá de lidar com um real forte". Mas o mesmo jornal classificou a medida do IOF como "sensata", porque deixar o câmbio solto seria a receita para o desastre, primeiro estrangulando a exportação e depois o balanço de pagamentos, quando os fluxos de capital cessarem.
BENJAMIN STEINBRUCH, 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
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