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terça-feira, 20 de outubro de 2009
20 de outubro de 2009 | N° 16130AlertaVoltar para a edição de hoje
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Em preto e branco
Há um aroma que tem o poder de me devolver instantaneamente à infância. É o cheiro de livros novos. No mês de março dos longínquos Anos Dourados, você passava em seu colégio e lhe davam uma lista de tudo o que iria precisar para voltar à sala de aula.
Então era só ir à Rua da Praia e passar na Companhia Editora Nacional ou na Globo e aprovisionar-se de lápis, caneta, tesoura, cartolina, e naturalmente de todos os compêndios que seu curso iria exigir.
Tudo recendia a novo, mas nada tanto quanto os volumes zero quilômetro de português, matemática, história ou geografia. Sinto agora, neste momento em que escrevo, a fragrância daquelas capas virgens, que iriam me acompanhar por todo o ano escolar. E é claro que me bate também uma saudade de idades a que nunca mais voltarei.
Me lembro disso porque acabo de ler na Veja que o Brasil está na rota do Kindle. Não se trata de nenhum bombom, mas de um e-reader, ou leitor eletrônico, um prodígio de 585 dólares, que se conecta à rede de telefonia celular de uma imensa estante digital, aí incluído o último romance de Dan Brown.
Os consumidores potenciais desse lançamento da Amazon são 90 milhões de pessoas. A meta é óbvia: oferecer um sucedâneo ao livro.
É a própria revista aliás que descreve magistralmente este último produto. É um objeto impresso em papel. Funciona sem bateria, dispensa o manual do usuário, suporta quedas, é barato e pode ser substituído a um custo mínimo.
É, portanto, uma invenção tecnologicamente perfeita. Não por acaso, atravessou mais de 500 anos como o mais simples e prático instrumento para o registro e a transmissão de ideias. Ao que acrescentaria eu que igualmente para a comunicação de sentimentos, desejos e abstrações.
O Kindle, cujo nome deriva dos verbos acender e iluminar, em inglês, passará, além do Brasil, a ser comercializado em 99 países. Só nos Estados Unidos, já vendeu mais de um milhão de unidades.
É um portento. Espelha uma civilização movida a bits e bytes. E no entanto os e-readers só decolaram depois que conseguiram imitar, eletronicamente, a impressão tradicional, feita no papel. A tela dos leitores é formada por milhares de pequenas cápsulas com pigmentos claros e escuros. No total, há 16 tons de cinza.
Já não sei quanto a outras cores. Pois um simples livro daqueles comprados no começo do ano podia ser preto e branco.
Mas nele cabia toda a sabedoria do universo.
Bem de volta ao nosso aqui e agora. Que a terça-feira seja ótima para quem trabalha e para quem está de folga.
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