quarta-feira, 7 de outubro de 2009



07 de outubro de 2009 | N° 16117
JOSÉ PEDRO GOULART


Let the sunshine in

Este é um pequeno depoimento de viagem. O sol está intenso aqui em Nova York, agora, enquanto escrevo. Depois de uma semana aqui, meus pés doem, mas há recompensas. Foram dias de caminhadas e noites musicais que começaram de frente, com o trompete do Roy Hargrove e terminaram de costas, com a bunda da Lady GaGa.

Trata-se de um lugar vagabundo, ordinário: sem janelas, enclausurado. É tudo o que se pode afirmar sobre o The Jazz Gallery. Ficamos no frio uns 40 minutos, eu e a Ana Maria, do lado de fora, à espera de que abrissem as portas. Subimos e opa! Primeira fila.

O clube ordinário parecia servir ao propósito de causar contraste. Hargrove, dois Grammy, parceiro de caras com Herbie Hancock, Wynton Marsalis, entrou em transe – posso afirmar, eu estava a um metro dele. E os músicos o acompanhavam na viagem. Meu testemunho só vai até aqui. O êxtase me desprendeu.

Do lixo (chique) para o luxo (brega): Hair na Broadway. O espetáculo símbolo de uma geração agora se transformou nisso: um espetáculo símbolo de uma geração. Não a dos jovens atores que estavam no palco, cantando, tirando a roupa, propagando o amor livre sem saber direito o que isso significou.

Mas a dos pais deles. De maneira que o Hair, antes uma peça de contestação, hoje é só um espetáculo colorido, com aquelas musiquinhas, e uma simulação infantil de uso de drogas e da disposição ao sexo.

Mas espere! Há uma luz que vem do fim do túnel do meu passado afetivo; no final, cantando Let the Sunshine in, o elenco incentiva que o público suba no palco. (Em viagens, uma parte importante do nosso senso de ridículo é neutralizada.) De modo que foi assim, cantando, pulando, que estreei na Broadway.

Congratulations, ouvi no dia seguinte de desconhecidos. Será? Não, não era para mim, saiu o resultado: “Rio 2016”, todos brasileiros recebiam cumprimentos. À noite, desse mesmo dia, um espetáculo inesquecível no Lincoln Center, Dave Brubeck e João Carlos Martins. Brubeck, 89, foi ovacionado por mais de 10 minutos; depois João Carlos Martins regeu, emocionado, uma emocionante versão do Hino Nacional Brasileiro.

Última noite: Lou Reed, Laurie Anderson, Bono Vox, Courtney Love, Scarlet Johanson e outros tantos cruzaram o palco do Carnegie Hall com a mesma profusão dos pedestres na Quinta Avenida. Era um show beneficente de amigos, essas coisas.

E ainda apareceu a Lady GaGa. Eu nem sabia quem era direito, mas ela entrou “de maiô”, sentou ao piano, abriu a boca e a voz da criatura preencheu o teatro. Depois, levantou-se, deu as costas (uau!) e saiu. Bem, lá fora o sol continua forte. Let sunshine in.

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