sexta-feira, 23 de outubro de 2009


ELIANE CANTANHÊDE

Matando cachorro a grito

BRASÍLIA - Segundo dados macroeconômicos do IBGE, o desemprego caiu e a renda cresceu, voltando aos patamares pré-crise.

Mas, segundo dados da realidade, colhidos pela Folha numa quilométrica fila de inscrição de concurso no Rio, a coisa é bem feia.

São 1.400 vagas para gari. Fora tíquete alimentação, vale-transporte e plano de saúde, o salário é de R$ 486,10. O suficiente para atrair 109.193 inscritos até ontem, dos quais 45 doutores, 22 mestres, 1.026 com nível superior completo e 3.180 incompleto.

Seria uma competição injusta com os que só têm até a quarta série do ensino fundamental -o mínimo exigido para a inscrição-, não fosse a inclusão de testes como flexões abdominais e corrida, literalmente mais suados e mais úteis que títulos e canudos para uma profissão tão sofrida quanto necessária. O risco é o sujeito ou a sujeita sair com a sensação de que estudou tanto, mas nem para gari serve.

Mal tiram a beca da formatura, a engenheira corre para um concurso de fiscal da Receita, o jornalista disputa qualquer vaga em qualquer repartição pública, o administrador de empresas aceita ser digitador no Itamaraty. Advogados caem às pencas de toda parte, até de táxis e quadros de portaria.

Na posse do ministro Samuel Pinheiro Guimarães (SAE), terça-feira, Lula encheu o peito para dizer que o ProUni colocou quase o mesmo número de estudantes que as universidades federais desde elas que existem. Mas para quê?

Há muito investimento a fazer em educação, inclusive no ensino público superior e no profissionalizante, e há dúvidas sobre essa multiplicação de vagas particulares.

Enche as burras de entidades privadas e tende a frustrar profissionais com diplomas inúteis na parede da sala. Será que é assim que se melhora o IDH, a qualidade do emprego e a própria educação? PS: Ainda dá tempo. As inscrições para gari no Rio só terminam hoje.

elianec@uol.com.br

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