quarta-feira, 24 de junho de 2009


CLÓVIS ROSSI

No andar de baixo

FRANKFURT - Esqueça um pouquinho todo o alarido em torno de Brasil emergente, de Brics e futuras potências. Não que o Brasil não possa ser potência em algum ponto do futuro, próximo ou remoto.

O alarido só ajuda a esconder o presente: o país é ainda do andar de baixo, diria Elio Gaspari.

Fato: a renda per capita média do planeta é de US$ 9.316 (pouco mais de R$ 18 mil). A do Brasil é de US$ 8.949, conforme os dados do mais recente Índice de Desenvolvimento Humano. O andar de baixo (da média mundial) tem uma vastíssima população, aliás: 74,7% dos terráqueos vivem nesses países (ou 5 bilhões de 6,71 bilhões).

Não adianta muito, portanto, gabar-se de que o Brasil é a décima economia do mundo se a renda de cada um de seus cidadãos está na parte inferior da tabela. Assim mesmo porque se trata de média. Se se tomassem apenas os 20% mais pobres, o padrão seria mais africano que brasileiro.

Ah, já que o presidente Lula acha que a mídia deveria divulgar apenas notícias boas, como o aumento do emprego, em vez de se preocupar com "desgraças", vamos falar um pouco de emprego. E fazer de conta que a aula de jornalismo não é apenas mais uma bobagem da já longa lista recente que sai da boca do presidente.

Entre janeiro e setembro de 2008, a geração líquida de empregos formais alcançava, em média, 180 mil por mês, o ritmo mais forte já observado, escreveu Fernando Sampaio, um dos ótimos colunistas desta Folha.

Muito bem: um certo Luiz Inácio Lula da Silva dizia, quando candidato em 2002, que seria preciso criar 10 milhões de empregos nos quatro anos seguintes, o que dá 2,5 milhões por ano e, arredondando para baixo, 200 mil por mês.

Se o melhor resultado (180 mil/mês) não chegou lá, também em matéria de criação de empregos estamos no andar de baixo.

crossi@uol.com.br

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