sexta-feira, 26 de junho de 2009



26 de junho de 2009
N° 16012 - DAVID COIMBRA


O primeiro dia

Lembro com nitidez do dia em que fui para a faculdade pela primeira vez. Dia importante. Significava uma passagem de nível, uma troca de condição. Era como se finalmente ingressasse na vida adulta.

Lembro que, aboletado no fundão do Linha 20, partindo de ruelas sinuosas do IAPI para o Centro selvagem, sentia-me, por algum motivo, desamparado. Já na Praça XV, embarquei no, mais do que lotado, Ipiranga-PUC. Como cabia tanta gente naquele canudo de lata?

Levava debaixo do braço uma pasta preta reluzindo de nova. Dentro, um caderno de espiral deliciosamente em branco, canetas BIC e o livro que estava lendo na semana. Era Os Buddenbrooks, do Thomas Mann, que emprestei para a minha colega Rosane Aubin, e ela nunca devolveu.

Instalei-me na carteira da Famecos um tanto ansioso. Imaginava que, naquele instante, entrava no mundo do conhecimento superior. Para minha surpresa, não foi bem o que ocorreu. Nem naquele dia, nem nos seguintes.

O conteúdo das aulas, de tão leve, chegava a ser etéreo. Pouco aprendi no primeiro semestre. Pensei: o segundo será melhor. Não foi. Nem os demais. Até tive alguns bons professores. Mas aquele caderno de espiral permaneceu em branco. Conteúdo não é exatamente o forte da faculdade de Jornalismo.

Esta semana mesmo, uma professora escreveu um texto com o instigante título “Jornalista diplomado aprende o quê?”. Fiquei curioso. O que será que aprendem? Fui ler.

Ela explicou: “Português, filosofia, legislação, sociologia, entre outras disciplinas”, mais “técnicas específicas, como reportagem, edição, linguagens para diferentes mídias, estudos de recepção, formas de tratar um acontecimento, considerando princípios éticos”.

Não sei bem o que são “estudos de recepção”, mas entendi o que a professora quis dizer. É que tudo isso consta no currículo do curso. Só que nada disso é de fato ensinado. As faculdades de Jornalismo são um quase logro. Como, aliás, diversas outras fora das áreas técnica e científica. Ainda assim, admito: seria um jornalista pior se não tivesse cursado a faculdade.

Cresci com a convivência de colegas, de profissionais que foram chamados à aula para conversar e até com a experiência de alguns professores. Fazer faculdade não transforma aluno em profissional, mas o coloca adiante de quem quer ser profissional sem fazer faculdade. Isso sendo as faculdades precárias. Fossem melhores, não seriam apenas importantes: seriam indispensáveis.

Faculdades de excelência formariam profissionais de excelência, e profissionais de excelência fazem diferença. O diploma de jornalismo não é mais obrigatório? Que a faculdade de Jornalismo se torne obrigatória, tornando-se, antes, uma faculdade que valha a delícia de um caderno de espiral em branco.

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