sábado, 13 de junho de 2009



13 de junho de 2009
N° 15999 - PAULO SANT’ANA


Fim das carroças

O presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre me manda com urgência: “Prezado Sant’Ana. Li tua coluna hoje como faço diariamente. Já sabia do teu orgulho e do Nico Fagundes de terem sido carroceiros.

Agora, trazes mais um nome de destaque, que exerceu essa profissão importante para os gaúchos: o do Nílson Souza. Como ex-carroceiros e homens de sucesso na nossa imprensa, estou certo que entenderão o espírito da chamada Lei dos Carroceiros, apresentada por mim, aprovada por meus colegas vereadores e sancionada pelo prefeito.

Em nenhum momento, a Lei 10.531/2008, agora contestada pelo Ministério Público, propõe o fim da profissão de carroceiro. A circulação das carroças é preservada em locais privados, em área urbana, na região periférica de Porto Alegre, em locais públicos, para fins de passeios turísticos, e em rotas que sejam autorizadas pelo Executivo municipal.

O espírito da lei, portanto, não é o de extinguir essa profissão. É, isso sim, o de proporcionar aos carroceiros oportunidade de crescer social e economicamente.

Lembro que a maioria dos carroceiros que circulam pelas ruas da cidade vive de catar lixo para reciclagem. Atualmente, o recolhimento de mais de 160 toneladas diárias de lixo reciclável é feito 50% pelo poder público e 50% por carroceiros e carrinheiros.
Enquanto o material arrecadado pelo DMLU é entregue diretamente às cooperativas mantidas em parceria com a prefeitura, o produto recolhido por carroceiros e carrinheiros é vendido a atravessadores, geralmente situados na Avenida Voluntários da Pátria.

Retirar o lixo das ruas é função exclusiva do poder público. A população paga para isso. Carroceiros e carrinheiros podem continuar a viver da reciclagem, trabalhando nos galpões ou nas centrais de triagem, prometidas pelo Executivo municipal. Aí, terão uma vida mais digna.

A verdade, Sant’Ana, é que os carroceiros do passado, os que transportavam charque pelas estradas do Rio Grande do Sul, por exemplo, eram mercadores, negociantes com um papel importante na sociedade gaúcha.

Hoje, nas cidades grandes, como Porto Alegre, eles têm pouco futuro. Se não receberem incentivo do poder público, dificilmente terão chance de ascender socialmente. Portanto, gostaria de reforçar o sentido social da Lei das Carroças. Ela visa dar uma vida melhor a esses homens, mulheres jovens e crianças.

Um grande abraço, (ass.) Sebastião Melo, presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre”.

Agora, quem escreve é o colunista. Será que o vereador Sebastião Melo acredita realmente que a extinção das carroças em Porto Alegre significará a redenção e a salvação dos carroceiros que trabalham em nossa Capital?

Será que o vereador Sebastião Melo acredita de sã consciência que a extinção de uma profissão que foi fundada junto com a fundação da nossa capital pelos açorianos significará a “ascensão social” dos carroceiros?

Será que esta lei de autoria do vereador Sebastião Melo irá mesmo significar a “ascensão econômica” dos carroceiros de nossa cidade? E que esta lei vai proporcionar aos carroceiros, então sem carroças, serem aproveitados nos serviços municipais de reciclagem do lixo?

Que lei, que governante concederá aos carroceiros emprego nos galpões de triagem? Como irão trabalhar nesse setor homens que somente sabem fazer uma coisa em suas vidas, que é recolher lixo para suas carroças?

O que me preocupa, vereador Sebastião Melo, é o destino de um só carroceiro que verá extinta a sua profissão.

Imagine, então, vereador, se não há de preocupar, a mim e a todos, o destino profissional de milhares de carroceiros quando se defrontarem com a dura realidade da extinção das carroças e a mais completa ausência de direito de serem aproveitados em outras profissões!

Vereador, o senhor está revelando um otimismo exagerado com sua lei.

Não há prefeito que possa sequer prometer, quanto mais cumprir, dotar milhares de carroceiros de empregos dignos depois que desaparecerem como por um milagre a sua profissão e as suas carroças.

Isso me dói terrivelmente no coração.

Nenhum comentário: