sábado, 27 de junho de 2009



28 de junho de 2009
N° 16014 - PAULO SANT’ANA


O abraço de Dilma

F ui sexta-feira à inauguração do monumental Parque Gráfico Jayme Sirotsky, da RBS, nas imediações do aeroporto.

Eu não poderia ir porque tinha de escrever a coluna de sábado e esta que estão lendo, mas me senti realizado durante os 90 minutos da cerimônia.

É que eu testemunhei o drama do Nelson Sirotsky, que até quinta-feira estava enfermo, totalmente gripado, com febre de 40 graus e o pior para quem tinha de fazer o discurso de inauguração diante do presidente Lula: estava totalmente sem voz.

Pois com o auxílio de médico e de medicamentos, o Nelson acabou se curando parcialmente e pronunciando o discurso, com excelência de conteúdo e dicção.

Alguns detalhes à margem da cerimônia: quando as autoridades foram chamadas ao palco, a ministra Dilma Rousseff sentou na fila da frente das autoridades, na poltrona que lhe cabia.

Mal sentou, levantou-se, desceu três lances de escada e se dirigiu a mim, que estava sentado em um poleiro. Disse-me a ministra Dilma: “Rale-se o protocolo, Sant’Ana, eu quero te abraçar”.

E eu respondi a ela num entusiasmo temerário: “Que Deus lhe dê saúde para este e outros dois governos”.

O presidente Lula ouvia atentamente os discursos que antecediam o dele.

Batia tremulamente com o pé direito no chão, impulso que me pareceu de nervosismo.

Além disso, por vezes Lula cofiava com dois dedos seu bigode.

E sete poltronas além da dele refulgia a beleza do rosto de Dilma Rousseff, restaurado belamente por uma plástica. Se a ministra tiver a gentileza de me dizer quem foi seu cirurgião, mande-me o nome, que eu também vou restaurar minha lataria com o mesmo dono do bisturi.

E, no fim da cerimônia, o presidente Lula, entre os homenageados, avistou-me e disse: “Sant’Ana, dá cá um abraço”.

Eu juro que não sabia que ele me conhecia.

Foi uma notável cerimônia, organizadíssima, acho que só por ela os atos anuais de jubilação dos funcionários da RBS foram levemente superados.

Desculpem, mas não posso deixar de incorrer em nepotismo afetivo: acontece que no Caderno Kzuka de ZH, sexta-feira, foi publicado um texto do meu neto Gabriel Sant’Ana Wainer, que tem apenas 17 anos de idade. Vou transcrevê-lo a seguir. Como conheço a capacidade de meu neto, posso afiançar que este texto faz terceiro lugar na lista dos seus mais notáveis.

Ei-lo: “Gosto muito desta teoria. Aquelas pessoas que são sempre simpáticas com todo mundo, pra mim, têm algum problema que não querem mostrar. Claro, não sejamos hipócritas, não é possível alguém gostar de todo mundo. E não me venham com essa de que ser simpático com todos é uma questão de educação. Até porque sinceridade e transparência também o são.

Há pessoas com as quais simplesmente não se vai com a cara, e não tem nada de errado nisso. Não gostar de alguém é um direito. Imaginem se nós todos gostássemos de todo mundo, que mundo insuportavelmente agradável e gracioso seria esse.

Ninguém falando mal de ninguém, as pessoas todas de caras boas e sorridentes, todo mundo se cumprimentando gentil e educadamente. Que inferno! Se não existisse a antipatia, não haveria a simpatia.

Assim como, se não houvesse o barulho, não haveria o silêncio; sem o escuro não teríamos o claro; sem o salgado não existiria o doce e sem o feio não haveria o bonito. Tudo na vida tem suas compensações, e a simpatia não é exceção à regra.

Simpatia seletiva, porque não dá pra ser legal com todo mundo, não é?” Assinado: Gabriel Sant’Ana Wainer, 17 anos, aluno do 2º ano do Colégio Lourenço Castanho, de São Paulo. Leia mais textos do Gabriel no www.kzuka.com.br/andeipensando.

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