domingo, 28 de junho de 2009


ROBERT MCCRUM
Ao mestre, com carinho

TRINTA E OITO ANOS MAIS JOVEM QUE T.S. ELIOT E HOJE COM 82 ANOS, A VIÚVA DO POETA, VALERIE, PREPARA A EDIÇÃO DE BILHETES E RECORTES DO CASAL, EM QUE REVELA A VIDA SÓBRIA E APAIXONADA QUE LEVAVAM

Casamento feliz

"Um fotógrafo do "Daily Express" nos flagrou no saguão nesta noite, e um homem do "Daily Mail" nos perseguiu até Roquebrune! Lua de mel maravilhosa, exceto por TSE ter contraído uma gripe e rachado um dente." Após a morte de Eliot, ela disse à BBC: "Ele obviamente precisava de um casamento feliz. Não morreria enquanto não o tivesse. Havia dentro dele um garotinho que nunca se libertara."

Apesar dos 38 anos de diferença entre eles, o segundo casamento de Eliot lhe trouxe a realização plena. Rosemary Goad diz: "Ele foi completamente rejuvenescido por Valerie".

Tendo feito parte do quadro de profissionais da Faber muito tempo depois da morte de Eliot, recordo-me de seu editor americano, Robert Giroux, me contando sobre a primeira visita feita pelos Eliot a Nova York, recém-casados.

No dia depois de chegar à cidade com sua jovem mulher, o escritor famoso telefonou para seu editor para fazer apenas um pedido: o hotel era ótimo, mas eles queriam uma cama de casal.

Todos concordam que Eliot encontrou enorme prazer em sua vida conjugal com Valerie, tendo escrito em um poema posterior ("A Dedication to My Wife", Uma Dedicatória a Minha Mulher) sobre "amantes cujos corpos cheiram um ao outro".

Nos cadernos de recortes, o casal reuniu uma série de suvenires ternos e mundanos, exemplares de papel de parede de quartos, bilhetes rabiscados em programas de teatro, recortes de jornais cuidadosamente datados e cardápios anotados de jantares requintados ("Valerie pediu crepe suzette").

Teatro e dança

Em festas literárias, os convidados observaram, fascinados, a figura cadavérica do poeta de mãos dadas com sua mulher jovem, loira e de seios fartos. Valerie, por sua parte, estava sempre a postos para afastar atenções indesejadas.

Os cadernos de recortes também trazem evidências de que Eliot, além de marido e amante, fez o papel de mentor e figura paterna para Valerie. Eles geralmente ficavam em casa à noite, mas, quando iam ao teatro, ele fazia anotações cuidadosas nos programas.

Depois de assistir a "Beyond the Fringe" [Além da Margem], Eliot rabiscou no verso de seu programa: "Quarteto de jovens espantosamente vigoroso: o espetáculo é ágil e bem produzido, um misto de brilhantismo, juvenilidade e mau gosto".

Observou especialmente Peter Cook e Alan Bennett, concluindo que "é agradável ver esse tipo de entretenimento sendo tão bem sucedido". Em outro recorte, ele diz ao "Daily Express": "Estou pensando em fazer aulas de dança outra vez, já que não danço há alguns anos". A alegria recém-encontrada na vida de Eliot se manifesta em seus trabalhos posteriores.

Na época de seu casamento, ele estava concluindo uma peça nova, "The Elder Statesman" [O Velho Estadista], em que uma figura pública sênior é comparada a um bicho-da-seda que durante anos sobrevive à base de folhas de amoreira muito amargas.

Sua filha lhe diz que é hora de desistir dessa dieta e sair para o mundo, como uma borboleta. A tragédia da felicidade recém-encontrada de Eliot foi que sua saúde, que nunca fora boa, estava começando a se enfraquecer.

Na Londres fria e poluída do pós-guerra, sofreu gravemente de gripe e bronquite, e seu coração era fraco. Valerie organizou as coisas para que Eliot tirasse férias durante o inverno, para convalescer, nas Bahamas e no Caribe.

Os cadernos deles contêm muitas fotos que os mostram relaxando ao sol. Eliot, de colete e boina branca de golfe, pode ter as barras das calças enroladas para cima, mas mesmo assim parece desajeitado e deslocado, como um bancário numa festa.

Além de visitas anuais à Jamaica, Valerie levava Eliot para passar períodos com sua mãe idosa em Leeds. Previsivelmente, a sra. Fletcher ficava maravilhada com seu genro e impressionada com sua aparência, que descrevia como "virginal".

Em junho de 1964, Eliot fez sua última visita a Leeds, cidade da qual aprendera a gostar.

Em outubro daquele ano, mergulhou num coma do qual não se previa que acordasse. Valerie segurou sua mão durante uma vigília que atravessou a noite, e, pela manhã, ele recobrou consciência.

Mais tarde, ela contou ao "Observer" que "ele me olhou como quem dissesse "consegui!'", e ela o levou para casa, em Kensington. Quando atravessou a soleira do apartamento, carregado, ele exclamou "viva, viva, viva!", e durante algum tempo recobrou suas forças.

Mas vivia à base de oxigênio, e no Natal seu coração começou a fraquejar novamente. Segundo Peter Ackroyd, cujo relato não autorizado da vida de Eliot ["T.S. Eliot", ed. Penguin] é de longe o melhor que está disponível, o poeta saiu de seu coma final para pronunciar o nome de Valerie e então morreu, em 4 de janeiro de 1965.

Valerie tinha 38 anos quando ele morreu. Durante anos guardou o apartamento deles em Kensington como santuário à memória de Eliot, sem mudar nada, chegando a guardar os frascos de oxigênio dos seus últimos dias de vida.

Extrato do caderno mais da folha de hj - O que o amor não faz na vida de duas pessoas não é..?

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