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sábado, 13 de junho de 2009
13 de junho de 2009
N° 15999 - NILSON SOUZA
Abrindo a alma
Ninguém é o remédio da felicidade do outro, alerta o psicoterapeuta Flávio Gikovate no seu divã eletrônico, apresentado nas noites de domingo pela Rádio CBN. Ele fala prioritariamente de relacionamentos afetivos. Responde a perguntas dos ouvintes, especialmente das ouvintes, porque as mulheres abrem muito mais o coração e a intimidade.
Fico estarrecido de ouvir o que as pessoas revelam publicamente sobre suas venturas e desventuras amorosas. Mas o nosso consultor não se espanta com nada. Tem respostas prontas e rápidas para todas as situações, por mais escabrosas que pareçam.
E, pelo que li a respeito dele, tem também autoridade para isso: é médico psiquiatra, com formação no Exterior, autor de livros sobre o tema e palestrante reconhecido.
Sempre que o ouço, fico pensando como uma pessoa assim – com solução para as dúvidas de todos os que o consultam – resolve os seus próprios dilemas. Sei que os analistas se analisam com colegas, parece que isso é até precondição para o exercício profissional.
Mas é curioso imaginar que alguém capaz de apontar caminhos para os mais intrincados dramas da alma humana se veja de vez em quando preso no labirinto de seus próprios impasses, sem o fio de Ariadne para encontrar a saída.
Não estou me referindo especificamente ao doutor Gikovate, nada sei da sua vida. Espero que ele seja muito feliz e que não tenha conflitos como os que atormentam seus consulentes. Se os tiver, porém, duvido que tente resolvê-los com um telefonema ou um e-mail.
Mas vivemos na era da exposição extrema. Outro dia li sobre uma escritora que saiu pelas ruas de uma grande cidade brasileira com um gravador nas mãos, solicitando a pessoas desconhecidas que relatassem alguma história de suas vidas.
Em pouco tempo, recolheu conteúdo suficiente para escrever um livro repleto de detalhados e inusitados dramas pessoais e familiares. Os entrevistados não pediam sigilo sobre os nomes citados, nem sequer perguntavam qual era a finalidade do trabalho.
Ficou para ela – e para mim também – a impressão de que as pessoas andam carentes de alguém que as ouça e ficam ainda mais motivadas a falar quando sabem que o relato será registrado para posterior divulgação.
Aí, talvez, esteja a explicação para o sucesso da psicanálise, que oferece respostas sensatas e científicas para os dilemas da alma. Mas também é nesse vácuo afetivo que agem os oportunistas e algumas seitas escancaradamente capciosas.
É fácil penetrar em corações vulneráveis. Talvez não haja um remédio efetivo para as dores emocionais – como alerta o doutor Gikovate. Mas, pelo jeito, falar alivia.
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