terça-feira, 30 de junho de 2009



30 de junho de 2009
N° 16016 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Reunião de família

O bom das festas de família são as pequenas inconfidências que surgem, antes acobertadas por séculos de cúmplices silêncios.

São a alegria do reencontro, após um mês, um ano, uma eternidade de distanciamento.

São o sentimento de que todos pertencem a um condomínio de lembranças compartilhadas.

São os mínimos segredos, antes mais ou menos ocultos, e de súbito divididos em sua inteira verdade.

São a sensação de que todos pertencem a um mesmo acervo de experiências que precisa ser reaprendido.

São a terna consciência de que, apesar da diáspora, nunca realmente nos apartamos.

São a redescoberta de recordações compartidas e desde muito caladas.

São a doce atmosfera de união na diversidade, pois há tanto separados somos no fundo iguais.

São as vivências repartidas de acontecimentos que entendíamos independentes.

São as alegrias esquecidas e que, sem aviso, voltam a tocar nossos corações.

São os netos que nascem, os filhos que se tornam adultos e a tia que tem 85 anos e a alma de uma menina.

São os sorrisos e as palavras dessa tia, que tornam presente o passado mais-que-perfeito.

São os simples olhares em que há todo um entendimento.

São a noção mágica de pertencer a um clã, a uma comunidade de afetos.

São as vozes e os risos que dão existência aos seres e às coisas.

São a reinvenção de muitas vidas, até ali dispersas, até ali reencontradas.

São a nua síntese de uma comunhão de caminhadas paralelas.

Assim são as festas de família: a reconstrução do que o tempo nunca poderá destruir.

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