sábado, 13 de junho de 2009



14 de junho de 2009
N° 16000 - DAVID COIMBRA


Uma polonesa ardilosa

Nenhuma mulher queria Napoleão quando ele ainda não era Napoleão, era só um generalzinho de 1m60cm de altura que, segundo seus colegas de farda, ficava ridículo dentro das botas de cano longo do exército francês.

O próprio Napoleão relatou em seu diário que nada menos do que seis damas parisienses rechaçaram seus pedidos de casamento nessa época. Inclusive algumas muito feias. Inclusive uma que tinha 60 anos de idade (ele, 20).

Mas depois Napoleão ficou famoso, rico, poderoso e, pelo jeito, muito mais bonito, porque as mulheres passaram a desejá-lo com ardor. As mais lindas não apenas da França, do mundo inteiro, ansiavam por ser conquistadas pelo conquistador da Europa. Napoleão teve austríacas, alemãs, russas e egípcias.

Quando Napoleão fez sua entrada triunfal em Varsóvia, uma bela jovem polonesa rompeu o bloqueio da soldadama para se apresentar diante dele, o peito arfante mal contido pelo decote profundo como uma tese de Wittgenstein, dizendo-se uma patriota que queria reivindicar em favor de seu país.

Napoleão resolveu ouvir as reivindicações com calma, em particular. À noite, um zeloso oficial francês conduziu a moça ao recôndito de seus aposentos. Ela entrou, tímida feito uma colegial, esfregando as alvas mãos. Napoleão começou a salivar.

Maria Waleska, esse o nome da polaquinha, era loira, formosa e uma cabeça mais alta do que o imperador. Ostentava o título de condessa. Confessou que seus compatriotas, inclusive o conde seu marido, pediram que ela usasse seus encantos para intervir pela independência da Polônia.

– O país todo está me atirando em seus braços – gemeu, e recuando um passo, como se estivesse entre temente e indefesa, acrescentou: – E eu sei que o senhor sempre toma o que pretende tomar.

Napoleão, claro, adorou aquilo. Pulou em cima da condessa como se ela fosse um naco de Camembert e a possuiu durante toda a noite, fazendo o que bem quis, como quis e onde quis. Foi um tanto violento, de acordo com o relato posterior da própria Maria Waleska. Mas ela gostou.

Apaixonou-se pelo imperador, e ele por ela. Tiveram até um filho. Dizem que foi a mulher que Napoleão mais amou, e há indícios escritos de tanto sentimento. Depois de sua passagem pela Polônia, na aridez do campo de batalha, as cartas que ele lhe endereçava pulsavam de paixão carnal.

Maria Waleska venceu, portanto. Como conseguiu? Empregou os ardis das mulheres novas, bonitas e carinhosas, que sempre fazem os homens gemer sem sentir dor. Waleska se ofereceu a Napoleão como uma presa.

Entregou-se a ele alegando que não podia fazer mais nada, a não ser se entregar. Era inevitável, ciciava Waleska: se Napoleão quisesse tomá-la, tomá-la-ia. Como a tomou. Só que, na verdade, era ela que o tomava.

Em resumo, Maria Waleska jogou no contra-ataque. Esperou que Napoleão atacasse, ele atacou e ela o conquistou. Esse o ensinamento da bela polonesa: quando se lida com os grandes, há que se jogar no contragolpe.

É assim que se vence um campeonato como o Brasileiro, em que há uma dúzia de grandes: negaceando, dissimulando e simulando. Jogando no contra-ataque. É como se forma um campeão. Ou, no caso de Maria Waleska, uma campeã.

Agora, antes de concluir, faz-se necessário citar outra poderosa concorrente ao coração de Napoleão: a velha Josefina. Essa definitivamente adotava uma postura ofensiva. Josefina traiu Napoleão com método e devoção.

Traiu-o inclusive depois que ele tirou a tiara real das mãos do Papa e a coroou imperatriz no púlpito da Notre-Dame. Mesmo assim, Napoleão era louco por ela. Dizem que por suas artes de alcova.

Sempre que ia começar uma viagem de volta a Paris, Napoleão escrevia para Josefina e pedia: “Não tome banho nos próximos dias, estou retornando”. Josefina obedecia. Como se vê, jogar no ataque às vezes também dá resultado.

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