terça-feira, 23 de junho de 2009



23 de junho de 2009
N° 16009- PAULO SANT’ANA


Dois bêbados engarrafados

Vai adiante o relatório das minhas viagens nos últimos 15 dias no trajeto que vai da minha casa, no Iguatemi, até a RBS TV ou a Zero Hora.

Há centenas de motos que passam voando pelo meu carro, sem que sequer eu adivinhasse que me iriam ultrapassar, porque incrivelmente meus três espelhos retrovisores não as alcançam.

Há em todo o trajeto, todos os dias, um desrespeito total dos motoristas aos pedestres e um desrespeito ainda talvez mais acintoso dos pedestres aos veículos. Uma zorra fantástica e macabra.

Agora, aqui na Avenida Ipiranga, os leitores meus não vão acreditar, um ciclista corre em toda a pista do lado do Ginásio da Brigada na contramão.

O ciclista enfrenta, durante uma quadra inteira, o fluxo de carros que vem da direção bairro-Centro, na contramão.

Deus sabe lá como o ciclista se salva, se é que se salvou, eu não pude acompanhá-lo com os olhos porque o carro que vai na frente do meu faz neste momento o que fazem todos os carros que vão na frente do nosso: anda irritantemente devagar.

E o carro que vem atrás do meu faz agora irritantemente o que fazem todos os carros que vêm atrás dos nossos: quer ultrapassar de qualquer jeito, tenta fazê-lo pela minha esquerda, não consegue, envereda pela minha direita e estou achando que vai me ultrapassar de qualquer jeito, mesmo porque, se não o fizer, ou baterá seu carro no meu, ou cairá dentro do riacho.

Cansados de esperar pela travessia, é inacreditável, um cego e a idosa que o conduz tentam atravessar a Rua Vicente da Fontoura.

São tão deploráveis o estado físico e a mobilidade da mulher que guia o cego, que este parece ter melhor preparo físico que a idosa, é incrível.

Depois de se esquivar de dois atropelamentos, o casal composto pela idosa e o cego consegue atravessar o leito da rua, mas os dois são xingados até a vituperação pelos motoristas.

Não há nenhum azulzinho na rua, mas se houvesse mil não dariam conta dos excessos de velocidade dos motoristas e dos excessos de lentidão de outros motoristas.

Um rapaz está dirigindo na Avenida Nilópolis com um sorvete de casquinha na mão e o telefone celular colado no ouvido na outra, ele inacreditavelmente controla o volante com o seu fêmur direito, eu nunca tinha visto isso.

Na Goethe, um rapaz dirige beijando a namorada, que quase avança inteiramente sobre a poltrona do motorista. A namorada, entre um beijo e outro no motorista, come pipoca, que tira direto do saquinho com a boca, sem ajuda das mãos: mas, é claro, as mãos dela se ocupam inteiramente em segurar ou tocar as várias partes do corpo do motorista-namorado.

Para mal dos pecados, surge avassaladoramente pela Rua Silva Só um carro de bombeiros com a sirena a mil, alguns motoristas dão lugar ao atendimento de emergência com gentileza, outros não cedem lugar porque parecem ter mais pressa que os próprios bombeiros. Não sei que fogo esses motoristas dos carros vão apagar.

Agora, ali na Rua Freitas e Castro, surge estapafurdiamente um bêbado bem no centro do leito da rua. Ele cambaleia, mas se recusa a fazê-lo na calçada, teima em ir ziguezagueando pelo meio da rua, interrompendo todo o trânsito.

Por sinal, nunca entendi por que todos os bêbados que já vi em minha vida cambaleiam pelo meio da rua, nunca pelas calçadas.

Um outro bêbado, vindo do mesmo bar de onde surgira o primeiro, demonstra a intenção de retirar o colega do meio do trânsito. Meu Deus, onde me meti? Desculpem o trocadilho, mas agora são dois bêbados a engarrafar o trânsito!

Isto tudo aconteceu em vários dias dentro de uma quinzena. Mas fatos isolados assim ocorrem todos os dias no meu caminho de casa para o serviço e vice-versa.

O trânsito enlouqueceu ou o trânsito está me enlouquecendo? Prefiro riscar um duplo.

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