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terça-feira, 30 de junho de 2009
30 de junho de 2009
N° 16016 - PAULO SANT’ANA
Dá para vencer o crack
Vesti ontem um casaco que causou sensação na Rua Padre Chagas e aqui na Redação.
Era um casaco de veludo, que lástima, veludo cotelê. E os frisos do casaco eram como manda a moda atual: estreitos.
Calhei muito bem dentro deste casaco que alguns setores salientes e entendidos de moda em Porto Alegre afirmaram que a cor (camelo) era apropriada para fim de outono ou início de inverno. E também afirmaram que meu passeio pela Padre Chagas com aquele casaco foi histórico.
Aliás, aquele casaco me inspirou a cantar o seguinte, tendo em vista os meus próximos dias:
Eu vou voltar aos velhos tempos de mim
Vestir de novo o meu casaco marrom
Tomar a mão da alegria e sair
Bye bye, Cecy “nous allons”.
Copacabana está dizendo que sim
Botou a brisa à minha disposição
Está bem, eu não sou o dono do mundo.
Eu sou o filho do dono.
Ontem, aqui na Redação, chamei o David Coimbra de invejoso, claro que brincando com ele para provocá-lo.
Ele respondeu seriamente: “Nunca te invejei. Ao contrário, eu te admiro com veneração. Desde quando eu era guri no IAPI, eu te assistia obcecadamente no Jornal do Almoço. Eu não te invejo, ao contrário, eu te admiro profundamente: tudo que eu desejo e sempre vou aspirar na vida é ser algum dia igual a ti.
É a segunda vez este ano que Salieri endeusa Mozart.
Fui ontem ao Painel que a RBS promoveu no BarraShoppigSul sobre a campanha Crack, Nem Pensar.
Tocou-me, entre outros comunicadores nossos, entrevistar um ex-usuário de crack.
Foi tão emocionante a entrevista que fiz com ele, que, em dado momento, nós dois, ao mesmo tempo, irrompemos num pranto convulso, as lágrimas emoldurando a narrativa que ele fez de como abandonou um vício depois de cinco anos.
Contou que, em determinado dia, foi despedido de seu emprego de pedreiro de obras civis. Recebeu R$ 1.800 por seus direitos trabalhistas e nem foi para casa, onde tinha uma mulher e um filho pequeno a esperá-lo na expectativa do sustento deles.
Ficou 15 dias fora de casa, na rua, no três primeiros dias ele gastou toda a sua indenização em pedras de crack, ou seja, 360 pedras da droga a R$ 5 cada uma. Fumou todas elas em 72 horas. Viajou pela fantasia mental que provoca a droga, esmagando a sua resistência psíquica, moral e física.
Voltou para casa 15 dias depois como um farrapo humano, após ter furtado e roubado em vários locais, tudo para comprar crack.
Em casa, segundo ele, usando de dois fatores fundamentais, a força de vontade e a esperança de que, se largasse o vício, poderia voltar a tratar da sobrevivência de seu filho e de seu casamento, deixou a droga, estando há meses sem dopar-se.
Foi então que, com aquele depoimento do ex-viciado diante das câmeras da TVCOM e do microfone da Rádio Gaúcha, eu e todo o auditório ficamos sabendo de uma grande novidade: é possível largar a droga, há gente que a larga, essa campanha da RBS é ainda mais sublime, é possível a um viciado em crack abandonar o vício, deixar de ser um drogado e reintegrar-se à família e ao meio social.
Portanto, a esperança pode ser a marca da nossa campanha. E, além da esperança, eu me muni também da fé de que a campanha é útil, é necessária e imprescindível.
Nós podemos derrotar as drogas, este é o grande horizonte que se oferece ao povo gaúcho.
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