segunda-feira, 22 de junho de 2009



22 de junho de 2009
N° 16008 - PAULO SANT’ANA


Atentado à vista

Corre um sangrento ódio entre os interinos da minha coluna. Eles se odeiam porque, diante da minha urgente e provável sucessão, nenhum dos 12 interinos eventuais e sazonais da minha coluna tolerará que não seja ele o ocupante do meu lugar quando eu morrer, data que ao que consta está muito próxima, tanto que sou eu quem afirma e repete todos os dias que me falta pouco.

Vejam a que nível de ódio chegou a disputa entre os meus interinos para abocanhar a minha cadeira no caso muito provável da minha morte.

O Alexandre Bach me pegou no bar e desancou o David Coimbra. Falou mal a mais não poder do David para mim.

Falou mal do estilo do David, falou mal das colunas do David e, depois de 40 minutos de destampatórios contra o David, concluiu o Alexandre: “E como pode ainda correr o rumor de que o David Coimbra vai ser o teu sucessor!”. Que ódio!

O Moisés Mendes também levou-me até o bar e me disse que o Cláudio Brito é prolixo e tem a mania de entender de tudo, da política carcerária até os mistérios que rondam o sambódromo do Porto Seco.

Ajuntou o Moisés que o Cláudio Brito gosta muito de aparecer, é autor da maior frase megalomaníaca da história do jornalismo, diante das câmeras, num desfile de Carnaval na Avenida: “Fechem em mim que eu vou chorar”. O sujeito que pretende que o alvo da câmera saia do desfile da escola e venha para a cara dele não é digno de ambicionar ser teu sucessor definitivo na coluna, finalizou o Moisés.

O Luiz Zini Pires me encontrou no supermercado e lascou o pau no Clóvis Malta: “Um sujeito caladão e fechado como o Malta não pode ser teu sucessor. Quem for te suceder tem de ser verborrágico, agitado e intrigante como eu. Não vais ungir o Malta como o príncipe sucessor de tua coluna”.

A Rosane Tremea foi até minha casa para destilar seu veneno contra o Nílson Souza. Chamou-o de ególatra, centralizador e ambicioso. Além do que, mostrou uma grande desvantagem do Nílson para a vaga de meu sucessor na coluna: ele passa mais tempo telefonando do que escrevendo, “quem for te suceder na coluna tem de ser alguém que escreve durante 20 horas por dia, sobre qualquer assunto, como o Scliar.

O Nílson não pode, Pablo, ele já é muito poderoso na empresa, se ficar ainda mais com tua coluna, se tornará mais plenipotenciário do que o Nelson”.

Os interinos não se entendem. Atacam uns aos outros de forma contundente, chegando até a calúnia e a difamação.

Mostram-se nervosos e apreensivos com a sucessão na minha coluna, ainda mais que souberam que cerca de 10 médicos estão me atendendo sucessivamente nos últimos dias, o que prenuncia um fim meu próximo.

Desconfio até que este ódio entre os meus interinos pode culminar em atentado deles todos contra mim.

Estou me sentindo um dia, na escadaria do fumódromo de ZH, sendo assassinado por meus interinos armados de punhais.

E eu, sangrando abundantemente, ainda terei tempo de olhar para meus matadores, fixar meu olhar num deles e exclamar: – Até tu, Brito?

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