domingo, 14 de junho de 2009



Uma dica para amar V – Antes de morrer
maria-da-poesia

As mortes são tantas hoje em dia, que me parecem ser mais comum do que a própria vida. São mortes criminosas, acidentais, consequentes, naturais, fatos tão corriqueiros que o abalo emocional só acontece quando a morte envolve uma pessoa próxima ou quando foge da normalidade que se espera individualmente.

No entanto, todas as formas em que a morte se apresenta são apenas morte para quem morre e inconformismo diante da perda do ente querido insubstituível ou da iminência certa e inevitável para quem ainda vive. Em ambos os casos, uma grande injustiça.

Presumo que a constatação na hora H seja unânime: uma vida, a vida que conhecemos, nunca é o suficiente. Quando a vida é digna de esperança, todo mundo quer viver mais e mais, cada vez mais. Quem nasce quer viver e não morrer, apesar da morte ser o único fim previsto a todos. Dificilmente aceita-se a morte.

Não tenho medo de morrer. Se eu morrer, morri, acabou. A questão é que ANTES de morrer, como um ser humano qualquer, QUERO VIVER MAIS! E não quero viver sofrendo, sentindo dor. Se isso acontecer que a morte seja breve, o meu alívio necessário.

No livro, A Aprendizagem, que não canso de citar aqui neste blog, mostra o tempo todo esse confronto entre a vida e a morte.

Em certo momento, Ulisses diz assim: “Antes de morrer se vive, Lóri. É uma naturalidade morrer, transformar-se, transmutar-se. Nunca se inventou nada além de morrer. Como nunca se inventou um modo diferente de amor de corpo que é estranho e cego e, no entanto, cada pessoa sem saber da outra, reinventa a cópia. Morrer deve ser um gozo natural. Depois de morrer não se vai ao paraíso, morrer é que é o paraíso”.

Se eu morrer hoje, vou ser pega de surpresa tanto quanto você. Será uma morte estúpida, precoce, injusta, porque a vida que vivi até aqui ainda não me foi o suficiente.

E não tenho nenhum remédio que amenize o inconformismo que restará aos que me amam e ainda viverão, além da lição de que se deve VIVER APESAR DE. Só sei que até lá, assim como Lóri, “não posso ter uma vida mesquinha porque ela não combinaria com o absoluto da morte”.

*Minha solidariedade às vítimas do Airbus da Air France, voo 447 (01/06/09) e às vítimas de mortes estúpidas e precoces.

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