sexta-feira, 19 de junho de 2009



Jaime Cimenti
19/06/2009

Rua da Praia

Dom Carlos Reverbel, o saudoso escritor, jornalista e marido da não menos saudosa professora Olga Reverbel, gostava de frases. Lá pelos anos setenta, acho, ele disse que a Rua da Praia estava enterrada no belo livro de Nilo Ruschel, de 1971, que tem o mesmo título que a rua e que há poucos dias ganhou merecida nova edição, da Editora da Cidade e do Instituto Estadual do Livro.

Outro bom frasista, o também saudoso pintor Iberê Camargo, referindo-se à nossa principal rua do Centro, disse, acho que lá pelos anos noventa, que a Rua da Praia revelava o achinelamento nacional. Como seria uma boa frase para definir a Rua da Praia de 2009? Este texto não pretende lembrar os anos dourados, o cafezinho do Rian, os paralelepípedos e o antigo charme da Andradas.

Tenho saudade do meu tempo de guri, quando planejava ler todos os livros da Livraria do Globo e me embriagava, de leve, com os bombons de licor da Kopenhagen.

Mas, pensando bem, outras cidades e outras partes do mundo também mostram certo achinelamento. Isso consola um pouco, vá lá. A elegância (que não é necessariamente sinônimo de poder, casta, dinheiro ou posição), a grana e a delicadeza são artigos que andam mesmo escassos no planeta.

A Rua da Praia segue viva, pulsando, com muitas pessoas habitando, trabalhando, namorando e vivendo em seus prédios e circulando pelas calçadas e pelo calçadão. Claro que o comércio, os serviços e os frequentadores mudaram e que muitos antigos barões imobiliários do Centro preferem investir em outras regiões da cidade.

Os valores dos imóveis e dos aluguéis não são os mesmos e tal. Mesmo diante de tudo isso, prefiro, no fundo, a exemplo de muitos porto-alegrenses, que a Rua da Praia recupere sua importância. Iniciativas especialmente na área da cultura estão aí, em várias partes do Centro, buscando revitalizá-lo.

O projeto do Cais do Porto deve ajudar, assim como os projetos habitacionais, que atendem a camadas populares e que, ao fim e ao cabo, proporcionam vida, consumo e movimento. O grande desafio, claro, é ver crianças e jovens frequentando a Rua da Praia e as demais ruas do Centro.

Meu lado guri ainda curte, quando dá, o lendário cachorro do Bigode, aquele da Galeria do Rosário. Tem tele-entrega, mas o melhor e mais democrático é degustar de pé, no balcão, ouvindo o velho coração da Rua da Praia batendo. Pois é, no fundo eu e muitos torcemos para que o coração da vovó aguente mais uns séculos. Saúde!

Bem domingo às 2h45m começa o inverno, portanto aproveite esse restinho de outono. Um ótimo fim de semana e Porto que me espere.

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