Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 13 de junho de 2009
13 de junho de 2009
N° 15999 - CLÁUDIA LAITANO
Curiosidade
Você é curioso? Até onde iria para satisfazer uma curiosidade? Ser curioso é sinônimo de inquietação intelectual ou sintoma de uma certa falta de ter o que fazer?
Se a gente para para pensar, a curiosidade pode nos levar a atitudes tão diversas quanto pesquisar a cura do câncer ou abrir o envelope do vizinho que foi parar na nossa caixa de correio.
O mesmo impulso de ir além das informações disponíveis é capaz de nos levar à autossuperação ou ao amesquinhamento, à verdade que ilumina ou a um conjunto de versões superficiais sobre o mesmo fato que não nos diz respeito.
É a curiosidade que move o pesquisador que fica anos investigando o comportamento de um punhado de células, o jornalista que apura todos os lados de uma notícia, o aventureiro que sonha com paisagens inexploradas – mas também o bisbilhoteiro mais ou menos reprimido que vive dentro de cada um de nós.
A curiosidade, às vezes, funciona como uma espécie de coceira, um impulso irrefreável que se encerra no próprio prazer de coçar. Assim que é satisfeita, já não tem mais sentido nem propósito, a novidade perde graça e a coceira muda de lugar.
Já a verdadeira curiosidade pelo conhecimento nunca se basta nem sossega – só aumenta. (Tem uma frase do Guimarães Rosa mais ou menos sobre isso: “Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.”)
A repercussão de uma notinha de cinco linhas publicada aqui no jornal esta semana ilustra bem essa situação em que a curiosidade se transforma em uma espécie de pulsão incontrolável– um desejo quase lúbrico por nomes, fotografias, detalhes íntimos... A nota dava conta de uma briga de mulheres em um restaurante sofisticado da Capital – a colunista não deu os nomes das envolvidas nem entrou em detalhes sobre os motivos da agressão.
Era previsível que uma notícia desse tipo causasse alarido em uma cidade do tamanho de Porto Alegre. Mesmo assim, foi impressionante o número de pessoas que se mobilizaram para saber mais sobre o incidente – ligando e escrevendo para o jornal com a avidez de quem procura um bilhete premiado distraidamente jogado na lata do lixo.
Ao evento em si, apenas as pessoas diretamente envolvidas podem dar a dimensão correta – ou talvez nem elas. Mas o interesse gerado pelo episódio permite várias divagações a respeito da natureza humana.
A explicação mais óbvia para toda essa curiosidade é a tentação universal de espiar a intimidade alheia – e não apenas para descobrir detalhes sórdidos. Para o bem ou para o mal, tudo que é humano nos interessa, seja para imaginarmos um mundo mais interessante do que o nosso, seja para chegarmos à conclusão de que a nossa vidinha trivial tem lá suas vantagens.
O certo é que as histórias que nos fascinam mais profundamente são as que nos permitem viver, na imaginação, experiências que não teríamos chance, ou coragem, para encarar na vida real.
É possível que essa mulher que perdeu o controle em um lugar público tenha atraído tanta curiosidade não apenas porque tem dinheiro e é casada com um homem conhecido (por algum curioso senso de justiça social, a maioria das pessoas comuns adora confirmar o fato evidente de que rico também dá barraco...) ou porque expôs parte de sua intimidade diante de desconhecidos, mas por ter realizado a fantasia inconfessável de muitas mulheres aparentemente tranquilas – e de seus homens também.
Diz o que te deixa curioso e te direi quem és.
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