sexta-feira, 12 de junho de 2009



Jaime Cimenti
12/6/2009


As palavras e os silêncios do fim de um casamento

O romance A última palavra, do psicanalista, professor e escritor niteroiense Carlos Eduardo Leal, nascido em 1955, retrata com muita sensibilidade os silêncios, as palavras e os dramas de um casal de escritores que resolveu dar um fim à sua vida em comum.

Carlos Eduardo não é novato na literatura. Publicou dois livros de poemas e um romance antes de A última palavra. É professor universitário, psicanalista e supervisor clínico, além de professor da Pós-Graduação em Clínica Psicanalítica (Psicanálise e Arte) da Pestalozzi.

Os trinta e dois textos escritos pelos dois personagens revelam com força, densidade e alta carga emocional os momentos de amor, desamor, ciúme, indiferença, desilusão e todo tipo de sentimento contraditório, próprio, aliás, dessas ocasiões. A busca angustiante pelo entendimento e pela palavra exata marca profundamente a narrativa fluente e elétrica.

Os textos dele são escritos com raiva, os dela mostram mágoa profunda. Situações cotidianas revelam o fim do amor, que nem eles mesmos sabem se um dia existiu, mas, ao mesmo tempo, dão a entender que os sentimentos chegaram a ser bons no início da relação. Como de costume, a culpa do inevitável desgaste do relacionamento é atribuída ao outro, que nunca se esforçou o suficiente para satisfazer as vontades do parceiro.

O egoísmo se mistura com mentiras e cobranças. Ela sente-se culpada por nunca ter tido filhos. Ele nunca contou a ela sobre uma vasectomia que fez antes do casamento, com a finalidade de não ver perturbada sua vida tão ordenada.

Essa e outras mentiras vão vir à tona justamente nos momentos do final. O romance é desses que investiga, sem dó nem piedade, os sentimentos humanos, as confusões, os mistérios e as revelações de um caso de amor que bem se parece com o de tantos por aí.

É difícil não sentir raiva, compaixão, pena ou revolta pelos dois integrantes do casal e, aqui e ali, os leitores vão certamente tomar partido. Vão se identificar com as idas e vindas do casal e com as situações que parecem as de um filme de Bergman.

A narrativa mostra bem que a vida é feita de palavras interrompidas, intervalos, silêncios, lembranças não vividas e memórias apagadas.

O amor, o ódio e a indiferença da vida em comum desses tempos modernos estão na narrativa, e os leitores vão sentir que é muito o que desaguou depois de tantos anos de contenção e silêncios. 176 páginas, R$ 24,50. Editora Rocco, telefone (21)-3525-2000.

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