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sábado, 4 de abril de 2009
05 de abril de 2009
N° 15929 - PAULO SANT’ANA
Overdose de camarão
Venho de uma noite e um dia em Rio Grande, a cidade do porto e da praia, a cidade do mar, onde fui participar com meus companheiros de mais um Jornal do Almoço.
Não sei por que os músicos de Rio Grande têm mais alma, mais sentimento. Este é um mistério insondável.
As cidades que têm mar têm também mais alma, mais inspiração. Basta ver que os três maiores Carnavais brasileiros se dão no Rio de Janeiro, em Salvador e em Recife.
Não por acaso, a música brasileira tem seus três maiores polos de inspiração no Rio de Janeiro, em Salvador e em Recife.
A gente chega a Rio Grande e sente que está numa cidade diferente. O mar dá-nos uma consciência de infinitude, transmite-nos a sensação de que não temos limites, que além de nós existem muitos mundos.
O mar nos instiga a pensar em nossa condição, a contemplar as nossas mágoas e sonhos, impele-nos a cogitar sobre afinal o que estamos fazendo nesta vida, se ela tem sentido ou vamos apenas a reboque do destino.
Duvido que qualquer pessoa, ante a visão do mar, não se aprofunde em reflexões.
O mar faz pensar, faz recordar e faz ter dúvida ou confiança sobre o futuro.
Quando olhamos o mar, sentimo-nos refugiados na terra. Parece que fomos lançados ao continente, mas nossa verdadeira origem é o mar, com suas profundezas e suas procelas, foi dele que viemos.
Mas mal você chega a Rio Grande e passa a se dar conta de que a cidade vive em função do mar: por toda a parte os camarões, as lulas, as tainhas, as anchovas, os peixes todos do mar, os frutos do mar.
Nunca houve talvez uma safra de camarões igual a deste ano em Rio Grande. Foi tão grande, que o quilo do camarão pode ser vendido na cidade entre R$ 3 e R$ 5, uma festa para todos, até para os pobres, que em tempos normais são afastados do camarão pelo preço inacessível.
Nunca se comeu tanto camarão em Rio Grande como neste ano. A oferta do crustáceo é tão grande, que o preço se refletiu no Mercado Público de Porto Alegre e nos supermercados da Capital, onde baixou mais de 50% e tem feito a festa nas mesas dos consumidores.
Eu sou suspeito porque me sinto fascinado pelo camarão. Comi-o crocante, comi-o à milanesa, comi-o gratinado, comi-o ao bafo, de todas as maneiras que pude comê-lo nas rápidas horas em que estive em Rio Grande.
E quanto mais próximo do mar for o restaurante ou lar em que se cozinha o camarão, mais delicioso ele é. O camarão fresco é privilégio estupendo das cidades banhadas pelo mar. Não pode haver maior delícia que um camarão regado por uma caipirinha ou por uma cerveja. O camarão tem a propriedade do churrasco, ele une as pessoas em conversa durante o seu consumo.
Já fiz mais de cem Jornal do Almoço pelo Interior nos últimos 37 anos.
Mas sempre que me espera um churrasco gordo de ovelha ou camarão ao alho e óleo na cidade do destino, sinto-me intrépido e cheio de ânsia para devorar aqueles petiscos.
E quando de lambujem ainda me oferecem a música do Som Brasil e o cavaquinho do Nadir, divino cavaquinho do estivador Nadir e dos outros estivadores músicos de Rio Grande, parece que estou no paraíso.
E um elogio: as belas ruas de Rio Grande, com seus prédios de arquitetura antiga, da cidade mais antiga aqui do pago, estão limpas, muito bem cuidadas pela prefeitura.
Deve ser bom viver em Rio Grande, ainda mais que a cidade está animada com melhora econômica pelo novo polo naval.
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