terça-feira, 21 de abril de 2009



21 de abril de 2009
N° 15946 - PAULO SANT’ANA


O nó da forca

21 de abril de 1792. Exatamente 30 anos antes da independência do Brasil, era executado na forca, no Rio de Janeiro, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, o máximo herói brasileiro, o único exemplar heroico da pátria responsável por um feriado nacional, o dia de hoje.

Entre os 29 conjurados presos durante três anos, submetidos a interrogatórios e processos, o único condenado à morte foi Tiradentes.

Exatamente por ter assumido inteiramente sua culpa na tentativa de levante contra Portugal, que então dominava o Brasil e o espoliava com pesados impostos, despertando na consciência nacional os sonhos de independência.

Tiradentes foi mineiro, tropeiro e proprietário de terras, antes de ser alferes (o posto de tenente hoje) e dentista.

Era vibrante orador e subiu o patíbulo justamente por ter-se tornado popular entre os inconfidentes.

No cálido e outonal dia 21 de abril de 1792, o cortejo do condenado foi cuidadosamente desenhado da Rua da Cadeia (atual Assembleia Legislativa fluminense), passando pelo Largo da Carioca, Rua da Carioca, Largo do Rócio (hoje Praça Tiradentes) e Rua da Lampadosa (hoje Avenida Passos).

Ao rufar de tambores, com escolta de infantaria e cavalaria, Tiradentes, com as mãos amarradas, ia seguindo pelas ruas do Rio de Janeiro no rumo do patíbulo, até que, pouco antes do local da execução, foi permitido ao condenado, diante da Igreja da Lampadosa, fazer suas últimas preces.

O público ia crescendo em torno do cortejo e desembocaria na Rua da Forca, hoje Rua Senhor dos Passos, onde tudo estava preparado para a execução do maior mártir da nacionalidade.

Os outros 28 conjurados foram condenados ao desterro e enviados para a África, entre eles o mais célebre dos inconfidentes, o poeta Tomás Antônio Gonzaga.

Mas Tiradentes, com impressionante coragem, assumiu sua culpa, adivinhando que seu exemplo haveria de iluminar as próximas gerações e contribuiria para a inevitável independência de sua terra.

Diante da formação das tropas e do clero, Tiradentes subiu o patíbulo e, depois das cerimônias de praxe, despencou na corda, sob horror de alguns e êxtase de outros.

Durante 15 minutos, longos e cruciantes 900 segundos, Tiradentes esperneou na corda, para perplexidade dos presentes. Havia mulheres e crianças que choravam, algumas correndo para suas casas, debaixo de pavor.

E o corpo do inesquecível alferes, por um defeito da mecânica de execução, continuava esperneando.

Até que, findos os infindáveis 15 minutos de tortura, o comandante do ato quis dar um fim à agonia e mandou que o carrasco subisse num banco e montasse nos ombros de Tiradentes.

Com o peso do carrasco sobre seu corpo, Tiradentes sucumbiu por fratura e asfixia, não sem antes espernear por mais um minuto e meio.

Normalmente, os condenados à forca demoravam nunca mais de um minuto para morrer, depois que seus corpos caíam e seus pescoços pendiam sob o nó da corda.

Mas Tiradentes levou mais de 15 minutos para morrer, como que a anunciar que a resistência dos brasileiros à opressão portuguesa seria incessante, até a queda dos dominadores, verificada 30 anos depois.

Logo em seguida, o poder teve o capricho de mandar esquartejar o corpo do alferes e espalhar por todas as províncias do país, pendurados nos postes das praças para servir de advertência ao povo, as pernas, os braços, o tórax e a cabeça do mártir, durante uma semana.

Foi salgado o terreno da residência de Tiradentes, com o objetivo simbólico de conter as ideias libertárias, como se fosse possível impedir as ideias de liberdade, intrínsecas ao homem.

Tiradentes é o nosso maior mártir, o nosso maior herói, o nosso ícone, o nosso exemplo.

Justo que nos miremos em seu exemplo no dia de hoje, muitas vezes esquecemos que por trás dos nossos direitos exercitados existem vultos extraordinários da pátria que nos legaram, na conspiração ou nas batalhas, este rico e brilhante Brasil que tanto amamos.

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