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sábado, 18 de abril de 2009
19 de abril de 2009 | N° 15944
PAULO SANT’ANA
Uma chaga inesquecível
A Casa Branca divulgou na quinta-feira os mais eloquentes memorandos governamentais sobre as técnicas de interrogatório a presos de guerra, aconselhadas para obter confissões dos prisioneiros depois da queda das duas torres gêmeas.
É com certeza uma das mais perversas chagas do regime democrático norte-americano, proclamado como o menos imperfeito do mundo.
Uma das técnicas de interrogatório permitidas e oficialmente aconselhadas pelo governo americano é a “simulação de afogamento”.
É bom que se frise que só era simulação para os torturadores. Porque os presos não podem saber que é uma simulação lançá-los ao mar, amarrados, mantendo-os submersos, para içá-los quando seus pulmões estão prestes a estourar.
Depois dessa tortura cruel, ante a possibilidade de voltarem a ser submetidos a elas se não confessassem o que pretendiam os verdugos, os presos obviamente cediam aos torturadores, declarando o que eles bem entendessem.
É impressionante o rol de torturas autorizado pelo governo.
Os interrogadores tiveram licença para jogar água sobre os suspeitos, confiná-los em caixas para dentro das quais eram jogados insetos que picavam os torturados. Imaginem uma pessoa presa dentro de um cubículo estreito, submetida à sanha de insetos picadores.
Além dessas práticas, foram autorizados “tapas de insulto”. Ou seja, insistentes tapas no rosto e no abdome do suspeito, com o fim de minar-lhe a estrutura moral.
Outra submissão oficializada pelo governo Bush era a colocação do suspeito em posição estressante, por oito horas a fio, qual seja apoiado a uma parede, em posição de revista.
Outra técnica de interrogatório severo era submeter os presos a ambientes com altas temperaturas, verdadeiros simulacros dos fornos crematórios em que foram mortos os judeus na II Guerra Mundial.
Os memorandos autorizavam os torturadores a mesclar os diversos métodos de tortura, com a finalidade de obter os resultados mais eficazes.
Um dos memorandos foi muito claro ao autodeclarar-se como autorização legal para o uso daquelas técnicas de interrogatórios propostas pela CIA.
A tortura existe desde os primórdios do homem sobre a Terra.
O que aturde o mundo civilizado é que em pleno século 21 a maior nação do mundo tenha criado um código oficial de torturas, permissivo e autorizativo, não só com o beneplácito mas com a marca autoral do governo norte-americano.
Na relação das torturas que deviam ser infligidas aos prisioneiros, estão carimbadas as impressões digitais do governo Bush, o que por si só poderia levar o ex-presidente ao banco dos réus de qualquer tribunal internacional de penas.
Não me sai da cabeça esse episódio como uma das maiores chagas que foram presenciadas pela humanidade nos últimos tempos.
Barack Obama decidiu que não irá processar os torturadores, até mesmo porque eles receberam ordens do governo para torturar, o que ocasionaria imensas discussões sobre a obediência fiel a descaraterizar as culpas.
Mas Bush não foi obediente a ninguém, pelo que tinha de ser julgado por essas nojentas monstruosidades.
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