Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
O AVESSO DO MUNDO
Não sei se já contei. Mas Palomas tem surtos de inversão das coisas. Por exemplo, os parlamentares decidiram ser todos muito honestos e cortar gastos supérfluos. Devolveram diárias de anos passados.
Pediram desculpas por erros cometidos. Espantaram os lobistas. Acabaram com os cargos de confiança. Tiveram, é bem verdade, de recuar e de manter pelo menos alguns, pois a população se revoltou alegando que a medida criaria mais desemprego e acabaria com a nobre profissão de cabo eleitoral.
O maior atleta da comunidade decidiu parar de jogar, saturado de ganhar dinheiro. Estava com saudades dos tempos em que passava fome, não tinha material escolar, trabalhava capinando na lavoura, mas podia comer bergamota no pé e soltar pandorga nos campos e nos cerros.
Ah, como Palomas pode ser romântica! A inversão das coisas pode ser tamanha em Palomas que o Judiciário legisla, o Legislativo investiga e julga e o Executivo faz tudo ao mesmo tempo. O poder não interessa aos palomenses. Quando a governanta viaja, não deixa ninguém no seu lugar. Nem precisa. Palomas foi um dos primeiros lugares do mundo a adotar o neoliberalismo socialista.
Lá, todo banco privado tem direito a ser financiado pelo Estado e, simultaneamente, a defender uma participação menor do Estado nos negócios, especialmente na tributação dos lucros bancários. Palomas tem uma filosofia política secular. Se a iniciativa privada quebra por ineficácia, a culpa é do Estado. Se quebra por roubalheira, a culpa também é do Estado. Se tem êxito, o Estado só atrapalhou.
Palomas é tão avançada em inversão que foi a primeira cidade independente – nem Atenas fez isso – a instituir bônus de gratificação para executivos malsucedidos. Palomas acha que premiar o fracasso melhora a autoestima, estimula o consumo e produz muita vontade de correr riscos com o dinheiro dos outros. É revolucionário.
A maior polêmica de Palomas nos últimos tempos, porém, tem a ver com um projeto da construção civil. Um grupo de empresários pediu a mudança de uma lei para alavancar o progresso da comunidade.
Eles queriam construir, na frente de um maravilhoso conjunto residencial de luxo, um rio. Sim, isso mesmo, construir um rio para banhar um condomínio de Primeiro Mundo. Palomas não tem rio. É verdade que já inventei um para cortá-la ao meio. Era ficção. Sem rio, Palomas nunca terá ar europeu nem poderá rivalizar com Buenos Aires ou Dubai.
Eu sou totalmente a favor do rio em Palomas. Os visionários, no entanto, esbarraram num problema. Queriam colocar o rio a 30 metros dos edifícios. A lei previa 500 metros. Alguns vereadores usaram uma matemática especial e sugeriram uma média: 60 metros. Deu rolo. Empacou.
Os empresários desistiram. Não querem mais construir um rio a 30 metros de edifícios residenciais. Que pena! Ia ficar tão bonito e confortável para os moradores do paraíso. Não deu.
Os empresários cansaram de ser injustiçados por adeptos do Maniqueu (é, se meus informantes não erram, atualmente o maior fazendeiro de Palomas, filho do Alfeu, sabem o Alfeu?) e por alcandorados (?) maniqueístas (peões do Maniqueu, acho).
Compreendo. É duro. Muito duro. Duríssimo. Agora eles só querem construir o rio a 30 metros de um conjunto de prédios comerciais. Faz uma diferença enorme. Sem dúvida, era só essa a questão em debate. Ufa! Tudo resolvido.
juremir@correiodopovo.com.br
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