quinta-feira, 23 de abril de 2009



23 de abril de 2009
N° 15948 - LUIS FERNANDO VERISSIMO


Ela e suas alternativas

Prometo não citar de novo aquela frase do Churchill segundo a qual a democracia é o pior regime político que existe com exceção de todos os outros, mas talvez seja bom, neste momento em que nosso Congresso tanto se empenha em desmoralizá-la, pensar um pouco nas alternativas à nossa democracia representativa.

Já se falou que o Senado deveria ser extinto, lamenta-se o custo para a nação da farra do Legislativo, não passa dia sem que apareça outro escândalo dos nossos eleitos e caminhamos para um paradoxo: enquanto as ditaduras fecham parlamentos para se livrarem da democracia, nós podemos acabar liquidando-a para proteger seu bom nome. Um pouco como pais antigos que preferiam ver a filha morta a vê-la desonrada.

Quais seriam as alternativas a uma democracia sem políticos venais? Conhecemos algumas. Um governo militar, forte, honesto – ou desonesto, não faria diferença, pois sua venalidade nunca seria exposta. Uma volta ao ideal ciceroniano de um governo de notáveis, com a probidade e a competência asseguradas pelo berço e isentos da aprovação da plebe? Bom, mas difícil de organizar, assim, em tão pouco tempo, ainda mais com as elites que temos.

Na Roma do Cícero não tinha escuta telefônica, o que tornava mais fácil presumir a honorabilidade dos notáveis só por serem notáveis. Ou quem sabe a gente esquece tudo isto e parte para a solução mais à mão e potencialmente mais divertida: Lula imperador? Assim, em vez de nos preocuparmos com os desmandos de 400, nos preocuparíamos com um só.

Alguém já disse que exercer a democracia é como andar de bicicleta: se você para, fatalmente cai, para a esquerda ou para a direita. A solução, tanto para ciclistas quanto para democratas convictos, é continuar pedalando. Que este é um dos piores congressos da nossa história, ninguém discute. Que confiar na sua autorregeneração é levar a fé na humanidade um pouco longe demais, também é indiscutível. Mas não desesperemos – e pedalemos.

O aperfeiçoamento de uma democracia requer prática e tempo, e a função deste Congresso pode muito bem ser a de educar a nação: pior do que este não pode ser, mandem um melhorzinho da próxima vez. E da próxima, e da próxima.

Não ajuda muito generalizar e demonizar toda uma classe política, esquecendo dos Simons e similares que honram seus mandatos, nem o tom extremo de certo denuncismo. O mais importante é preservar a democracia do seu mau uso.

A não ser, claro, que você prefira uma das alternativas.

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