sexta-feira, 17 de abril de 2009



17 de abril de 2009
N° 15942 - DAVID COIMBRA


Pelo fim do Rio Grande

Eu fecharia o Rio Grande do Sul. Fecharia todos os Estados. Para que servem? Um Estado, uma província, um país são abstrações. Alguém pode argumentar que um Estado tem identidade cultural.

Qual é a identidade cultural do Rio Grande do Sul, com a exceção de que aqui todo mundo torce para o Grêmio ou para o Inter? O gaúcho de Porto Alegre, que nunca enfiou os joelhos numa bombacha ou escalou o lombo de um cavalo, o que tem a ver com o do fundo da Fronteira Oeste, que contempla a coxilha atrás do seu bigode?

E o da Fronteira, o que tem a ver com o colono da Serra, que fala carroça com um único erre? Finalmente, qual é a diferença entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina? E o Paraná, o Mato Grosso do Sul, o Sul da Bahia, são tão diversos assim do Rio Grande?

Muito se diz que o Estado a cada ano perde suas prerrogativas para a União. Deveria perder todas, mas sobretudo para o município. Porque a cidade, essa sim, existe. A polícia poderia ser apenas municipal e federal. Aliás, a federal é a que melhor funciona. A saúde já é municipalizada. A educação, as melhores escolas são as municipais e federais. Água? Para que precisa haver Dmae e Corsan e não um só? Estradas? Os Estados estão ansiosos para repassar todas à União.

Se o Estado for fechado, essa paquidérmica estrutura será alegremente desmontada: o imponente Palácio Farroupilha, onde funciona a Assembleia Legislativa, será transformado em hotel de luxo; o Palácio Piratini será sede de um ótimo museu, onde se contarão histórias de valentias passadas; os prédios das secretarias, das autarquias, os veículos, os móveis, tudo reverterá (mesmo) para a comunidade. E o Senado, que, afinal, representa os Estados, enfim poderá ser extinto.

O tão propalado gauchismo não passa de um sentimento. Um estado, sim, mas de espírito.

Prova número 1: A cidade mais gaúcha que conheci não se situa no Rio Grande do Sul, mas em Santa Catarina. São Joaquim. Fui lá durante a Festa da Maçã e me espantei. Nunca havia visto tanto chapéu de aba larga e facão três listras e cuia de chimarrão e gente falando tchê. Aquela região inteira é assim. Dizem que um dia um viajante cansado chegou à rodoviária de Lajes e pediu:

– Me dá uma passagem para a Capital.

Entrou no ônibus, sentou-se e dormiu. Acordou em Porto Alegre.

Prova número 2: conheço músicos gaudérios que antes eram roqueiros, conheço gente que jamais pisou no Rio Grande do Sul e que se considera gaúcho, conheço gaúchos que, com duas semanas de Rio de Janeiro, voltam chiando e falando douze.

Logo, não será um trauma fechar o Estado. Nossas festas, nossas datas comemorativas, nossas cavalgadas pela praia, até nossos Hino e bandeira, tudo que é impalpável, pode continuar existindo. O Estado, enquanto estrutura, não. Ninguém sentirá falta. Vamos acabar com o Rio Grande do Sul.

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