quarta-feira, 22 de abril de 2009



22 de abril de 2009
N° 15947 - MARTHA MEDEIROS


Uma carona pra morte

Éclaro que nos comove ver pessoas que, no auge da depressão, tiram a própria vida por não enxergar mais nenhum caminho possível à frente.

É um ato de desespero quase sempre planejado e que deixa familiares e amigos de mãos atadas, impotentes. Mas nossa comiseração se transforma em raiva quando essas pessoas cometem o desatino de levar junto com elas quem não pediu pra embarcar nessa viagem sem volta.

Aconteceu em Novo Hamburgo, aconteceu em Livramento. No primeiro caso, uma mulher de 47 anos, falida, matou o marido, a irmã e a sobrinha antes de tentar um fracassado suicídio, porque julgou que estaria fazendo um bem a eles, evitando que herdassem sua colossal dívida.

No outro caso, uma mãe matou os dois filhos, de seis e oito anos de idade, antes de tirar a própria vida. Ambos os casos mostram uma prepotência sem tamanho.

Ok, para chegar a um ato extremo como o suicídio, a pessoa não está bem, não se pode cobrar dela equilíbrio, mas, ainda assim, a palavra prepotência é justificada. Se não queremos que nossos amores sofram com nossa ausência, basta ter a coragem de ficar, de seguir vivendo, a despeito de todo o sofrimento.

Porém, se não há mais como seguir adiante, que assumamos essa decisão solitariamente. É covardia querer sair de cena acompanhada, sem permitir que nossos filhos ou cônjuges permaneçam e enfrentem a própria dor. Eles se recuperarão. Será que é isso que o suicida não tolera?

Há que se ter integridade até para se matar. Os crimes passionais são outro exemplo dessa covardia, geralmente perpetuada por homens que, sem condições emocionais de aceitar que sua namorada ou esposa não os quer mais, as privam de seguir vivendo para que elas não voltem a amar: eles as matam e se matam em seguida, encerrando de vez sua trajetória de humilhação.

Volto a dizer: sei que estou me referindo a pessoas que estão psicologicamente comprometidas, fora de si. Ainda assim, me custa perdoá-las pela insanidade consumada. Onde é que fica a humildade?

Como uma pessoa pode se sentir dona da vida dos filhos, de seus parceiros, de seus familiares? Que “generosidade” é essa de procurar evitar o sofrimento dos outros, lhes ofertando a morte em troca?

Prepotência. Não encontro outra palavra para definir aquele que se julga no direito de decidir que é hora de todos partirem juntos.

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