quinta-feira, 30 de abril de 2009



30 de abril de 2009
N° 15955l - LETICIA WIERZCHOWSKI


Alguns pliés e muita humildade

Dia desses, li numa revista de moda que o filme O Curioso Caso de Benjamim Button tinha levado um grande número de mulheres de volta às academias de balé cariocas.

Não sei se o motivo desse retorno em massa era a beleza impressionante de Cate Blanchett como a bailarina do filme, ou se o fato de essa bailarina ser a escolhida para compartilhar a perfeição do jovem Button na pele do Brad Pitt.

Enfim, vi o filme, me emocionei e saí do cinema chorando um rio de lágrimas. E, sim, apesar de nunca ter feito a conexão proposta pela dita revista, dois meses mais tarde, acreditem, lá estava eu me matriculando numa academia de balé.

Nunca fiz balé na vida, e agora, aos 36 anos, estou suando a malha para aprender uns arabesques e grand pliés. Não sei se a beleza de Cate Blanchett na tela tem alguma coisa a ver com isso – na verdade, acabei no balé por um convite da minha amiga Fernanda Milman, e cá estou, adorando a novidade, e talvez corrigindo esse lapso da minha infância, que era quando eu deveria ter começado a usar sapatilhas. Nas aulas, saibam que me esforço a aprender alguma coisinha.

Sou uma aluna confusa até mesmo com o glossário do balé, e perdida nas minúcias posturais e part de bras, mas vou exercitando, muito mais do que meus músculos, a minha humildade.

Pois é, foi isso que descobri numa das últimas aulas: se estou aprendendo alguma coisa aqui é o exercício da humildade. Porque estou errando muito, estamos quase todas (trintonas novatas ou esquecidas das velhas tardes de pirouettes) errando muito sob a paciência da nossa mestra Laura. Mas sabe que é bom errar? Errar é altamente saudável nessa vida onde todo mundo está sempre querendo ser o melhor em tudo.

Meus melhores momentos não têm hora para acontecer, mas minhas melhores performances não nascem naquela sala de aula onde me sinto ora uma mulher corajosa, ora uma sapa desengonçada, ora uma baita tola que não consegue executar nem um balancé. Na verdade, eu nem sabia que meus gestos eram tão deselegantes…

O que eu andava fazendo quando deveria ter frequentado aulas de balé como uma boa mocinha de família? Creio que estava em casa mesmo, lendo livros e comendo pipoca doce – duas coisas das quais não me arrependo…

Mas, enfim, minhas aulas de balé têm sido um bom jeito de começar a semana, um exercício de leveza e de superação feito com humor e muita boa vontade.

Uma hora dessas, vou fazer um arabesque que se preze e, quem sabe, até mesmo completar uma piroutte sem parecer uma laranja que rolou para fora do saco. Eu sei que vai demorar, mas não tenho pressa.

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