sexta-feira, 17 de abril de 2009



Que mal tem o Adriano?

Adriano, imperador dos gramados, jogador da seleção brasileira, diz tranquilamente que quer dar um tempo, viver onde viveu quando menino, fazer e comer coisas simples, sentir-se feliz. Muita gente acha que ele está doente, que precisa de auxílio e não sei o quê. Talvez digam isso por que ele estava no auge, ganhando uma grana preta, vivendo na Itália e tal.

Talvez digam isso para dizer que ele está doente e não a maioria dos outros, que engole o tédio diário com batata, refri e cerveja. É bom não esquecer que Greta Garbo, um belo dia, se enfurnou num apartamento anônimo em Nova Iorque, bateu a porta e pediu que a deixassem sozinha.

O escritor J.D. Salinger, autor do genial O apanhador no campo de centeio, fez noventa anos recluso em sua casa no alto de um morro e faz uns cinquenta que não dá entrevistas, não publica quase e não se deixa fotografar. Alguns escritores brasileiros, como Luiz Vilela e Raduan Nassar, depois de grande exposição, estão, discretamente, no Interior.

E nem precisamos falar de ricos, famosos ou célebres. Nesse momento em que escrevo muitas pessoas "comuns" devem estar tomando o rumo de Cidreira, Capão da Canoa, Torres, Florianópolis, Paris, Nova Iorque, Minas do Leão, Praga ou Mostardas para viver sossegadas, sem tantos ruídos, badalações, compromissos, compras, conversas chatas, encontros desagradáveis, consumos desvairados e outras cositas da tal vida moderna urbana, que às vezes, muitas vezes, é de lascar.

Todo mundo tem o direito de, ao menos uma vez, escapar e ir atrás da felicidade, onde quer que ela esteja.

Tolstoi fugiu de casa meio tarde, lá pelos oitenta ou noventa, não lembro bem. Mas fugiu. Os rebeldes ao extremo são os que moram sozinhos e fogem de casa para se libertar, mas aí é outro papo.

Bom, tem quem prefira se recolher na própria cidade ou no próprio umbigo e viver quieto no seu apê e ponto. Não sei se o Adriano volta para o campo, se ainda vai fazer muitos gols e ganhar muitos milhões.

Nem ele deve saber isso, agora. De qualquer jeito, a atitude dele foi seu maior gol. Não é atitude nova ou original, mas é bem humana e nos faz lembrar que, nessa vida, o maior pecado é não ser feliz e jogar fora o maior dom que temos.

Sim, ela, a própria vida. Boa sorte, Adriano. Para todos nós. Valeu o exemplo, seja feliz, receba e dê afeto, amor e ajuda. Vai, Adriano. Vai atrás do tempo e das coisas perdidas que agora, de repente, vais encontrar.
Jaime Cimenti

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