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quinta-feira, 23 de abril de 2009
23 de abril de 2009
N° 15948 - PAULO SANT’ANA
Uma escamoteação
A manobra da equipe econômica do governo pode ser considerada um golpe baixo.
Cogita, segundo intenso noticiário de ontem, de baixar o preço da gasolina na refinaria e, em vez de repassar a redução para os consumidores, pretende que ela seja destinada a um aumento de impostos sobre os combustíveis.
É de não acreditar de tão perverso.
Resta pelo menos o consolo de que o governo e a Petrobras foram apanhados em flagrante ao escorchar a nós, consumidores, com preços injustificáveis no óleo e na gasolina: esta coluna denunciou por tempos o preço indevido e extorsivo, clamando para que fosse corrigido.
Pois bem, o governo assimilou o golpe, confessou que a Petrobras estava se locupletando à custa dos brasileiros, anunciou que baixará o preço do diesel, repassando a redução para os caminhoneiros e para as empresas de frete, e cogitou de baixar o preço da gasolina, pressionado pela queda fenomenal do preço do barril de petróleo internacional.
O barril baixou de cerca de US$ 150 para cerca de atuais US$ 50. Um escândalo que a Petrobras se mostrasse resistente a não baixar os preços.
Vão baixar o preço do diesel. E acharam uma forma de escamotear a queda no preço da gasolina: a diferença não beneficiará o bolso dos brasileiros, será destinada a um aumento no imposto sobre a gasolina.
Ou seja, um direito do consumidor e uma lei de mercado serão violados acintosamente pelo governo.
Eu só posso interpretar este ardil como um ódio e um desprezo ao consumidor. Se em vários países o preço da gasolina é mudado várias vezes por dia, levando em conta a oscilação no preço do barril de petróleo, como pode no Brasil o barril de petróleo ter baixado de preço em cerca de 200% e isso não se reflete nas bombas de gasolina?
Isso que há três anos o governo declarou taxativamente que o preço dos combustíveis seria o reflexo de só dois parâmetros: o barril de petróleo e o dólar.
Como é, então, que o governo se desdiz imediatamente após a violenta queda no preço internacional do barril de petróleo?
Como é que a regra do jogo é mudada descaradamente quando vai favorecer o consumidor?
Literalmente, segundo a notícia de ontem, o governo vai passar a perna nos consumidores e vai embolsar o que a eles pertence.
Vai aumentar a alíquota da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), o imposto que incide sobre os combustíveis, na gasolina. Vai obrigar a Petrobras a baixar o preço da gasolina na refinaria, mas em vez de fazer o que se faz na Argentina e na Venezuela, onde a autossuficiência é transformada em benefício para os consumidores, não transferirá para os brasileiros a redução da queda de preço na refinaria. Vai embolsá-la no imposto.
Ficou provado que a Petrobras está cobrando em demasia pelo diesel e pela gasolina.
O governo admitiu isso, e a Petrobras constrangidamente vai cobrar menos pelo preço de saída da refinaria.
Mas tristemente continuaremos pagando, em dólar, vejam bem, em dólar, 40% a mais pela gasolina do que os norte-americanos.
Continuaremos pagando a gasolina mais cara do mundo. Este é o prêmio que recebemos por sermos autossuficientes em petróleo.
E que vá pentear macacos aquela dezena de puxa-sacos da Petrobras que me escreveram dizendo que o preço que nos cobram nos postos era justo.
Justo? Aqui! É revoltantemente espoliativo. Agora com confissão do governo.
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