sábado, 4 de abril de 2009



05 de abril de 2009
N° 15929 - MOACYR SCLIAR


A culinária ao alcance de todos

Brillat-Savarin, autor do clássico A Fisiologia do Gosto, dizia que as trufas são “pérolas da cozinha”, um verdadeiro alimento dos deuses. A trufa é um cogumelo que nasce e se desenvolve sob a terra junto às raízes de certas árvores, como o salgueiro.

Aparentemente, a trufa não pode ser cultivada, e isso, junto com a fama, explica o preço estratosférico: a trufa branca chega a custar US$ 4 mil o quilo. Mais cara, inclusive, que o famoso caviar: o Royal Beluga custa US$ 3,4 mil, o Tsar Imperial é vendido por US$ 3,1 mil, e isso que tsar não existe na Rússia desde 1917.

Já experimentei trufa e já experimentei caviar. Não pagaria 50 centavos (de Real) por qualquer um dos dois. Na verdade, pagaria para não ter que comer essas coisas. Porque, claro, não sou gourmet. Invejo essas pessoas que vão em busca de restaurantes refinados, que sabem tudo sobre vinhos e temperos. Aliás, tenho um amigo que é assim, o Dr. Simão Piltcher. Ele é médico, e quando vai ao supermercado examina um mamão, por exemplo, com a atenção que médicos dão a pacientes.

Ele inspeciona o mamão, ele sopesa o mamão, ele percute o mamão, ele só não pede para o mamão dizer “trinta e três” porque mamões não falam (um dia, e a pedido do Dr. Simão, eles falarão). Quem não tem essa vocação para a culinária deveria se sentir humilhado, marginalizado. Mas isso não acontece por causa do Anonymus Gourmet.

Estou falando, claro, no Dr. José Antônio Pinheiro Machado, que se esconde sob esse modesto pseudônimo. Modesto, sim. De anônimo ele não tem nada. Entrem no Google, digitem “Anonymus Gourmet” e vocês obterão quase dois milhões e meio de referências. Até na Wikipedia ele está. Ali, descobrimos que o personagem surgiu no livro O Brasileiro que Ganhou o Prêmio Nobel, que tinha como subtítulo Uma Aventura de Anonymus Gourmet. Qual o segredo desse sucesso? Diz a Wikipedia: “O objetivo do programa é apresentar receitas simples, fáceis, baratas e saborosas”.

Está aí o segredo. Anonymus Gourmet democratizou a culinária, ele é o Lula das receitas (com a vantagem de evitar metáforas desastradas). Suas receitas produzem comida honesta. Para mim, e acho que para muitos milhões de gaúchos e brasileiros, “honesta” é o adjetivo que deve estar junto à palavra comida (palavra essa, aliás, que restaurantes de luxo provavelmente desprezam. Mas Pinheiro Machado, e isso ele deve ter no glorioso genoma, sabe que vivemos num país de imensas carências, no qual as pessoas se alimentam mal, quando se alimentam. Por isso ele se preocupa, inclusive, em introduzir hábitos alimentares sadios.

É isso aí, gente. Voltaremos!

Dos leitores. Muita gente se manifestou a propósito do texto que, numa homenagem ao aniversário de Porto Alegre, escrevi sobre a rua Espírito Santo. O Jairton Ortiz, acadêmico de História na Universidade La Salle diz que se emocionou: ele está fazendo uma pesquisa sobre o festejos em homenagem ao Espírito Santo em Porto Alegre.

A Mimi Aragon também gostou, mas faz uma correção, em relação aos versos de Quintana que citei: “Sinto uma dor infinita/ das ruas de Porto Alegre/ onde jamais passarei...” Em vez de “infinita” escrevi “esquisita”. Rima, mas fica esquisito mesmo, Mimi.

Também agradeço os cumprimentos de Leila Maria da Silva Moura, Paulo Maydana, e Flavio Antonio Zanin. A Dra. Carolina F. Ritt, advogada e professora da Unisc, autora, junto com seu esposo Eduardo Ritt de O Estatuto do Idoso: Aspectos Sociais, Criminológicos e Penais, comenta o texto que escrevi no Caderno Vida sobre a velhice no Brasil e diz:

“A violência praticada contra os idosos em nosso país é, na maioria dos casos, doméstica e familiar.” Um alerta mais que pertinente. Por último, registro as mensagens de Adriano Lamego, Felipe Martini, profa. Fatima Berro. Obrigado, gente!

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