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quinta-feira, 30 de abril de 2009
Dulce Critelli
O sublime, o gênio, a coragem
[...] SUSAN BOYLE DEIXOU DE SER A MENSAGEIRA DO SUBLIME PARA TORNAR-SE UM PRODUTO, OBJETO DE CONSUMO
Não fazia ideia, quando me contaram, de que me sentiria tão tocada vendo e ouvindo Susan Boyle cantar. Nesta semana, ela foi o assunto na imprensa, na internet, entre as pessoas com quem encontrei.
Susan Boyle está muito distante dos padrões atuais de aparência. Escocesa de 47 anos, corpo grande de matrona, cabelo desarranjado, vestido antiquado, um rosto longe de qualquer beleza. Atrás do sonho de se tornar cantora, inscreve-se num programa de calouros na Inglaterra.
O público e os jurados a observavam com deboche e com a certeza explícita de que ouvirão algo tão desairoso quanto o que viam. Mas, quando ela começa a cantar, sua voz era maravilhosa e evocava em todos uma grande comoção.
Com os aplausos, era possível distinguir uma pergunta: como é possível que o feio seja a origem do belo? Como pode o belo pertencer ao feio?
A voz de Susan Boyle parecia ser tão incoerente quanto o fato de o copo-de-leite e o lótus, em sua beleza branca, perfeita e delicada, nascerem do lodo escuro e fétido. Uma dádiva. Gratuita, natural, sem ser resultado de nenhum esforço, artifício ou obra humana.
Não da beleza da voz de Susan, mas da contradição entre sua voz e sua aparência irrompeu o que podemos chamar de sublime. O sublime irrompe sempre assim, do inesperado. É a maravilha que surpreende tocando a alma. Comovendo.
Mas não pudemos permanecer nessa comoção o tempo suficiente para entendermos o que o sublime nos vinha dizer.
O sistema de imediato se apoderou do acontecimento, assim como, tempos atrás, transformou a liberdade evocada pelo movimento hippie numa "calça velha, azul e desbotada".
Logo após sua apresentação, Susan Boyle foi convidada a gravar um disco, ofereceram-lhe um milhão de dólares para posar para uma revista, cercaram-na de entrevistas, sugeriu-se fazer um filme sobre ela.
Susan deixou de ser a mensageira do sublime para se tornar um produto, objeto de consumo. E nossa experiência do sublime foi suspensa. Voltamos à nossa posição de consumidores de um espetáculo. Mera ficção.
Fazia tempo que minha alma enferrujada não vivia um êxtase. Não se espantava nem estremecia diante de nada, muito menos diante de algo assim tão aparentado ao sagrado.
Essa passagem também me fez lembrar do que o psicólogo James Hillman diz em seu livro "O Código do Ser". Ele tem uma teoria, a do "fruto do carvalho", na qual sugere que cada um de nós tem uma singularidade, uma espécie de gênio que pede para ser vivido.
Segundo ele, a vida nos faz constantes chamados até que esse gênio possa expressar-se. Mas ele pode ser adiado, evitado, não ouvido.
Susan Boyle não parece ter sido pega de surpresa pelo chamado de seu gênio. Parece tê-lo ouvido com muita clareza. Foi fiel a ele, a despeito dos obstáculos que encontrou. Susan nos trouxe o sublime, pela corajosa obediência ao chamado do seu gênio. Grande lição!
DULCE CRITELLI , terapeuta existencial e professora de filosofia da PUC-SP, é autora de "Educação e Dominação Cultural" e "Analítica de Sentido" e coordenadora do Existentia - Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana
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