quinta-feira, 23 de abril de 2009



23 de abril de 2009
N° 15948 - RICARDO SILVESTRIN


Colagens

Que relação tem entre a palavra sapato e o objeto sapato? Aparentemente, nenhuma. O objeto poderia ter outro nome. Quem sabe, tucabo... Por que não? Um prazer inaugural deve ter tido quem inventou o nome de uma coisa. Sabe-se lá como chegou a ele. E deve ter havido outros que fizeram nomes que acabaram não pegando. O dono do nome perdeu-se no tempo.

Um estudioso da linguagem falou que a relação entre o nome e a coisa é arbitrária. Depois, veio outro e disse que só quando o nome é criado a relação é arbitrária. Logo em seguida, quando o nome pega, a relação passa a ser necessária. Sapato vira sapato e não se pode designá-lo de outra forma.

Caso contrário, não haveria comunicação. Para haver, é preciso que o nome seja aceito por uma comunidade de falantes. Imagina se cada um pusesse o nome que bem entendesse nas coisas. Teria que explicar seu vocabulário a cada momento. Gostou do meu tucabo? Como? O sapato. Pra mim, é tucabo.

Vi a exposição do Elton Manganelli na galeria Iberê Camargo da Usina do Gasômetro. Ele trabalha com colagens. Recortou imagens comuns de revistas e foi montando novas imagens. Uma delas chamou de Binóculo, pois todas as formas são redondas e ficam duas a duas. Noutra, Verticais, estão lado a lado uma girafa, um prédio alto e uma montanha.

Lembrei dessa questão da arbitrariedade e da necessidade vendo os quadros do Elton. Num primeiro momento, aquelas formas selecionadas poderiam ser outras. Mas, depois que foram escolhidas e coladas, passam a existir juntas, significando uma nova coisa.

A relação entre elas passa a ser necessária. Uma montanha, uma girafa e um prédio, com o nome Verticais, parecem ter nascidos um para o outro. As colagens estão em quadros com molduras. Formam um vocabulário próprio, como a criação das primeiras palavras, e entram em diálogo com quem para na frente delas.

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